André MARSZAL
Empoleirado a cerca de 90 metros acima das planícies do Novo México, preso apenas por um cinto de segurança ao teto de uma turbina eólica, Terrill Stowe começa seu trabalho.
“Faz 14 anos que não vejo ninguém cair. Espero que hoje não seja a primeira vez”, brincou o instrutor ao falar com a equipa da AFP, que subiu com dificuldade os 260 degraus da escada.
Uma gigantesca e solitária turbina eólica paira imponentemente sobre a pequena cidade de Tucumcari, a meia hora de carro da fronteira com o Texas.
Construída em 2008 no campus do Mesalands Community College, é uma das poucas turbinas em operação nos Estados Unidos onde novos técnicos podem praticar a entrada na crescente indústria eólica.
O setor está em ascensão: os Estados Unidos têm cerca de 75 mil turbinas que produzem eletricidade suficiente para abastecer cerca de 40 milhões de residências.
A capacidade eólica nacional mais do que duplicou na última década, uma expansão que deixa a indústria com dificuldades para formar trabalhadores ao ritmo necessário para manter as suas pás em movimento.
“Eles instalaram mais parques eólicos e não têm técnicos para acompanhá-los”, disse Stowe. Ele treina entre 10 e 20 alunos por semestre.
Primeiro praticam num armazém, no terreno, com uma réplica do aerogerador e caixa de velocidades, antes de se formarem e poderem subir à “nacela”, nome técnico do compartimento onde estão localizados o motor e as máquinas da torre, localizado no centro das três lâminas gigantescas.
Stowe alerta os alunos que esta não é uma profissão para os medrosos.
“Eu digo a eles que se eles têm medo de altura, eles não querem fazer isso”, disse ele.
Quando está ventando, estar no topo da torre “é como estar em um barco, indo e voltando, (mas) a 30 metros de altura”, acrescentou Stowe.
– “Teorias de conspiração” –
O crescimento da indústria eólica tem sido impulsionado pela queda dos custos da tecnologia, pela melhoria da eficiência da produção e por incentivos governamentais, como a Lei de Redução da Inflação do Presidente Joe Biden.
Nathaniel Alexander e Kevin Blea são dois dos alunos treinadores de Stowe. Jovens de Tucumcari retornaram à universidade após a formação para trabalhar como instrutores.
“Sou totalmente a favor da energia limpa”, disse Alexander, 28 anos, que se matriculou logo após terminar o ensino médio. Mas o que mais o motivou foi o “bom salário”.
Um diploma de dois anos custa entre US$ 6 mil e US$ 10 mil (R$ 33,3 mil e R$ 55,5 mil) e abre caminho para empregos que podem pagar entre US$ 50 mil e US$ 90 mil por ano. ano (R$ 277,6 mil e R$ 500 mil).
Nesta área rural do leste do Novo México, uma parte conservadora do estado democrata, muitos se recusam a atribuir a culpa pelo crescimento da indústria ao partido de Biden.
Os últimos anos têm sido “uma espécie de tendência ascendente”, explicou Stowe.
“Mas, na realidade, quando (o ex-presidente Donald) Trump estava no poder, tivemos uma tendência mais ascendente do que com Biden”, acrescentou este republicano.
Alexander disse que os incentivos fiscais “definitivamente ajudaram” a indústria, mas admitiu que não gostava muito das credenciais verdes do seu sector.
Em vez disso, ele gosta de ler postagens no Facebook “com teorias da conspiração sobre quanto combustível é necessário para alimentar” uma turbina eólica. “É completamente falso, mas acho engraçado.”
– Vento, gelo, relâmpagos –
As condições de segurança no setor mudaram drasticamente nas últimas décadas.
Antes de se tornar instrutor, Stowe trabalhou em parques eólicos e lembra-se de ter que rastejar sobre uma “placa de gelo” acima das turbinas, suportando ventos de 145 quilômetros por hora.
Os relâmpagos atingem frequentemente as torres, o que muitas vezes obriga os técnicos a escalá-las para as reparar.
“Naquela época, quando comecei a escalar, não importava o tempo”, lembra ele. Hoje em dia, «se o tempo estiver mau, não sobem».
Kevin Blea comentou que mesmo com precauções, num treino recente, o vento sacudiu tanto a turbina que um aluno “vomitou no capacete”. “Foi nojento”, disse o jovem de 27 anos, rindo.
Mas, deixando de lado os riscos ocupacionais, este trabalho é muito diferente de um trabalho de escritório.
“Ser o primeiro a escalar aquela torre e ver o horizonte pela manhã é simplesmente incrível”, disse Alexander. “É uma boa maneira de acordar.”