O Setor aéreo brasileiro
Caracteriza-se pela capacidade de conectar as regiões mais remotas do Brasil, além de promover o turismo interno. No entanto, o setor ainda enfrenta desafios importantes, como avanços tecnológicos, preços dos combustíveis, pressão pela descarbonização e questões regulatórias. O Brasil
É um país de extensas dimensões continentais, portanto, depende de um sistema de transporte aéreo acessível e eficiente que abra espaço para conexões entre regiões. Algumas áreas precisam avançar para atingir seu potencial.
Apesar dos obstáculos económicos que o país tem enfrentado, o setor aéreo tem vindo a crescer, mesmo que de forma tímida, segundo dados do “Insight da Aviação Brasileira 2023”
da Associação Latino-Americana e do Caribe de Transporte Aéreo – ALTA. Um dos destaques é o segmento de viagens internacionais, que cresceu 37% em relação a 2022. Em volume de passageiros, o país apresentou aumento de 14,7%, atingindo a marca de 115,5 milhões, em relação ao ano anterior. Na América Latina, o Brasil representa o maior mercado de aviação com 26,3% da capacidade total da região em termos de Assentos Quilômetros (ASK). Internamente, o tráfego também cresceu, atingindo 91 milhões de passageiros. O relatório destaca a importância da conectividade para impulsionar o crescimento sustentável do país, criando oportunidades para a utilização de um meio de transporte seguro e essencial. Segundo a ALTA, os principais desafios são os elevados custos operacionais do querosene de aviação e a judicialização do sistema.
Apesar do aumento da utilização do transporte aéreo nas últimas décadas, o Brasil ainda aparece como um país que utiliza pouco esse tipo de transporte. Em 2019, o Brasil registrou 0,5 viagens per capita, taxa muito inferior a países como Estados Unidos (2,6), Espanha (4,5) ou Chile (1,2).
Além do turismo, o transporte aéreo desempenha um papel nas relações comerciais, sociais e culturais, viabilizando os fluxos das cadeias de produção e consumo. É um dos poucos meios de transporte, senão o único, que chega aos cantos do nosso país, principalmente à Amazônia. O setor aéreo é essencial para promover o desenvolvimento regional, a integração social e servir comunidades isoladas para terem acesso a saúde, segurança e outros serviços públicos.
Avanços tecnológicos, incentivo à inovação e qualificação profissional
Para reduzir custos operacionais e aumentar a segurança, é importante investir em novas tecnologias com sistemas de navegação e comunicação mais precisos, sistemas de propulsão, tecnologias de controle, aeronaves modernas e sustentáveis e, claro, mais conforto para o passageiro, além de modelos de negócios com companhias aéreas de baixo custo.
O setor precisa acompanhar as tendências globais. Para isso, é fundamental desenvolver programas de formação atualizados para formar profissionais vitais para a eficiência e segurança do setor, como pilotos, controladores de voo e técnicos de manutenção.
A Comissão de Infraestrutura do Senado Federal aprovou a criação da Frente Parlamentar em Defesa do Transporte Aéreo Nacional, em abril deste ano (2024). O Projeto de Resolução do Senado (PRS 55/2023),
minha iniciativa, visa promover um amplo debate sobre o transporte aéreo no Brasil que possa resultar em políticas públicas mais eficazes e em maior conectividade para o país.
Custos de combustível e pressão para descarbonização
Os custos dos combustíveis de aviação e a crescente pressão pela descarbonização constituem um duplo desafio global que a indústria aérea enfrenta. O combustível predominante no setor é o querosene, derivado do petróleo, que é um dos fatores que mais impacta os custos operacionais. Recentemente (maio de 2024), a Petrobras anunciou aumento de 2,8% no preço do querosene de aviação (QAV). Apesar deste ajustamento, o preço do QAV ainda apresenta, ao longo de 2024, uma redução acumulada de 1,3%. O preço é uma das principais críticas do setor. Segundo as companhias aéreas, o combustível representa 40% do custo das passagens aéreas.
A volatilidade do preço do petróleo influencia o preço das passagens aéreas. Esta dependência, além de aumentar os custos das empresas, está em desacordo com as metas globais de redução das emissões de carbono. O transporte aéreo depende de combustíveis fósseis e, num mundo onde a sustentabilidade é cada vez mais exigida, precisa de encontrar soluções para se adaptar sem comprometer a sua viabilidade económica.
De acordo com uma pesquisa do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) chamada “Custos marginais das emissões da aviação para o clima e a qualidade do ar”,
a aviação civil contribui significativamente para as emissões de carbono. De acordo com a investigação, as emissões da aviação foram identificadas como responsáveis por 5% da carga climática e que as emissões da aviação aumentaram em média 2,6% nos últimos 25 anos. Segundo o estudo, as emissões da aviação afetam negativamente a saúde humana e estão associadas a cerca de 16 mil mortes prematuras anualmente.
Os esforços para reduzir os impactos das emissões da aviação têm-se centrado historicamente em abordagens tecnológicas e operacionais para melhorar a eficiência do combustível, nas normas de emissões, em medidas baseadas no mercado para reduzir as emissões de CO2 ou na utilização de combustíveis alternativos para a aviação.
Os governos, as organizações internacionais e os consumidores exigem que a aviação se torne mais sustentável. Uma opção é a adoção de combustíveis alternativos e o desenvolvimento de novas tecnologias, como aeronaves elétricas e híbridas. No entanto, estas inovações ainda enfrentam desafios em termos de custo, infraestrutura e escalabilidade.
Combustíveis do Futuro
Os Combustíveis de Aviação Sustentáveis (SAF) são produzidos a partir de fontes renováveis, como biomassa e resíduos. Esta é uma solução que pode ser implementada sem necessidade de substituição da frota de aeronaves. Mas para que isso se torne realidade é necessário aumentar a escala de produção para reduzir custos, além de apoio regulatório. Políticas públicas eficazes e incentivos governamentais são essenciais para tornar isso possível.
Em setembro, a Comissão de Infraestrutura do Senado deve considerar o projeto conhecido como “combustíveis do futuro” (PL 528/2020)
propõe programas nacionais de diesel verde, combustível de aviação sustentável e biometano, além de aumentar a mistura de etanol na gasolina e biodiesel no diesel. Participei das audiências públicas destinadas a debater o assunto e votei pela aprovação do relatório do senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB-PB).
Oportunidade de liderança no mercado de combustíveis sustentáveis
O Brasil pode se tornar um líder na transição sustentável do combustível de aviação. Temos recursos naturais, infraestrutura e cadeia de conhecimento. Temos experiência no setor e isso nos coloca em posição de destaque. Agora, precisamos investir.
Em 2023, o Brasil produziu 600 milhões de litros de Combustíveis de Aviação Sustentáveis, o dobro de 2022. Estimativas da Associação Internacional de Transporte Aéreo (IATA), a produção deste ano deve triplicar. Países como Estados Unidos, China, Japão e Alemanha já fabricam o combustível.
Ainda não há produção em escala comercial de combustível de aviação sustentável (SAF) no Brasil, mas vários projetos começam a se consolidar. Um exemplo é o Instituto Senai de Inovação em Energias Renováveis (ISI-ER), localizado em Natal, no Rio Grande do Norte, que inaugurou em setembro do ano passado uma planta piloto dedicada à produção de SAF, chamada Laboratório de Hidrogênio e Combustíveis. Avançado (H2CA). O objetivo desta instalação é aumentar a produção, que atualmente ocorre em escala laboratorial, de 200 mililitros (mL) por dia para cerca de 5 litros (L) por dia. Em outro projeto desenvolvido pelo laboratório Potiguar, a matéria-prima para a produção do gás de síntese — essencial na fabricação do SAF pela rota Fischer-Tropsch (FT) — é o CO2 capturado do ar e o hidrogênio verde, combustível limpo gerado a partir do eletrólise da água. Pelo menos quatro empresas já anunciaram planos para produzir combustível de aviação sustentável (SAF) no Brasil: Acelen, na Bahia; Petrobras, em Cubatão (SP); Brasil BioFuels, na Amazônia; e Geo Biogás, no Paraná. Além disso, a holding brasileira Grupo ECB revelou que a sua subsidiária Be8 Paraguai vai construir uma biorrefinaria no país vizinho, com capacidade para produzir 20 mil barris de biocombustíveis avançados por dia, incluindo SAF.
De acordo com Revista Fapesp,
O SAF pode ser obtido a partir de diferentes rotas tecnológicas e com matérias-primas que vão desde oleaginosas até etanol e resíduos sólidos urbanos. Em comum, todos os insumos possuem carbono, principal precursor dos hidrocarbonetos que compõem o SAF.
A aviação encontra-se num ponto de inflexão, onde a necessidade de reduzir os custos de combustível e cumprir os requisitos de descarbonização se tornaram imperativos, mas também oportunidades. Para que o setor aéreo continue a crescer de forma sustentável e a contribuir para o crescimento económico do nosso país, será necessário um equilíbrio entre inovação, investimento em novas infraestruturas e políticas públicas de apoio. O transporte aéreo brasileiro tem grande potencial para ser um modelo de sustentabilidade e liderar essa transição no mundo, mas isso exigirá compromisso entre governo e indústria em nível internacional e ação coordenada em todas as frentes. Espero que avancemos neste setor.