Um festival cheio de exuberância, com desfiles e música programados ao longo do ano para serem apresentados em três dias. À primeira vista pode parecer que estamos falando de Carnaval, mas na verdade trata-se da Festa de Parintins, celebração anual que acontece na segunda quinzena de junho, durante os festejos dos santos juninos. Este ano, a comemoração começa nesta sexta-feira (28).
Com fortes influências indígenas, o Festival é realizado na cidade de Parintins, no Amazonas, focado na tradição folclórica do boi-bumbá, ou também conhecido como bumba meu boi.
A festa é considerada patrimônio cultural do Brasil pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) e marca a disputa entre os dois bois-bumbás: Boi Garantido
representado pela torcida vermelha, e Boi Caprichoso
representado pelos torcedores azuis.
Por que ocorre a briga entre os bois-bumbás?
O Festival é composto por fantasias elaboradas, músicas e alegorias que remetem à lenda do Bumba Meu Boi. Na história, uma jovem grávida e escravizada, Mãe Catirina, tem vontade de comer língua de boi, mas não um boi qualquer, mas o mais bonito da fazenda.
O marido, Pai Francisco, para satisfazer o desejo da amada, mata o boi preferido do patrão. O homem, furioso com a morte do animal, promete matar o funcionário. Porém, com a intervenção do Xamã, o boi ressuscita e a tragédia é evitada.
A festa é marcada pela intensa rivalidade entre os dois bois: Garantido e Caprichoso. Essa disputa divide a cidade, com torcedores apaixonados que evitam sequer citar o nome do boi rival, referindo-se a ele apenas como “boi oposto”. As apresentações acontecem no Bumbódromo, arena que acomoda cerca de 25 mil pessoas, sendo metade torcedores de cada boi.
A rivalidade é tanta que as marcas patrocinadoras modificam suas embalagens para se adequarem às cores dos bois. Os currais, conhecidos como currais, são centros de preparação e ensaio, onde a magia da festa começa a ganhar forma.
O festival é composto por alguns componentes:
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Música:
também chamadas de toadas, este é um elemento forte do Festival. São músicas típicas que acompanham as apresentações, sendo cerca de 30 músicas tocadas durante o festival, muitas delas inéditas;
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Ritual:
Fortemente ligado à tradição indígena, os momentos finais das apresentações dos dois bois costumam ser realizados por um xamã; -
carro de touro
: Representa a apresentação da origem do boi-bumbá e de toda a história folclórica por trás do Festival; -
Apresentador:
Este é o responsável por conduzir a apresentação dos bois, sendo essenciais uma boa dicção e uma boa voz para cantar; -
Cunhã-poranga:
Ela é uma dançarina indígena que marca presença na apresentação do boi. Do tupi significa “moça linda”; -
Sinhá da Fazenda:
Representa o dono da fazenda, com grandes estereótipos de europeus; -
Porta-estandarte:
Responsável por segurar o símbolo do boi que representa, mantendo sua desenvoltura na dança; -
Levantador de Toada:
Cantor responsável por interpretar todos os cantos dos bois durante as apresentações; -
Eu amo o boi:
Cantor responsável pelos versos que são entendidos como desafio ao touro adversário.
Origem do festival
O Festival de Parintins teve início em 1966, após evoluir das brincadeiras de rua e das festas populares, que celebravam a lenda do boi-bumbá. Porém, há relatos da disputa entre os bois desde 1913, quando participantes ligados aos bois Garantido e Caprichoso competiam entre si na rua pela melhor apresentação.
Na década de 1960, porém, jovens católicos criaram o festival com o objetivo de arrecadar fundos para a construção de uma catedral, o festival rapidamente se tornou um dos eventos culturais mais importantes do Brasil.
Porém, foi somente em 1975 que o Festival recebeu apoio da prefeitura de Parintins e ganhou investimentos para realizá-lo. Em 2018, o IPHAN reconheceu a importância do Festival de Parintins, declarando-o Patrimônio Cultural do Brasil.
O Festival de Parintins apresenta-se como uma celebração da cultura brasileira, uma manifestação da herança indígena e uma vitrine da beleza e da diversidade do folclore nacional. Seja você torcendo pelo vermelho do Garantido ou pelo azul do Caprichoso, participar deste festival significa mergulhar de cabeça em uma das mais ricas tradições culturais do Brasil.