Nas últimas semanas, a discussão sobre a privatização das praias brasileiras ganhou destaque depois que a atriz Luana Piovani criticou o jogador Neymar Jr. (PEC) 03/2022.
O tema, porém, não é novo e havia sido aprovado pela Câmara dos Deputados em 2022, sendo depois encaminhado ao Senado, onde o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) é relator.
Em países como Estados Unidos, Itália e Egito, por exemplo, existem diversas praias restritas, onde o acesso do público é proibido. Portanto, a preocupação com a privatização de áreas do litoral brasileiro vai muito além do mero alarde.
Assim, áreas onde hoje o acesso público ainda é permitido poderão ser fechadas apenas para pessoas autorizadas, além da construção de grandes hotéis e resorts – algo semelhante ao que se encontra nas Bahamas, onde trechos inteiros de praia são ocupados por propriedades luxuosas. .
Praias luxuosas que podem ser privatizadas
A PEC 03/2022 não menciona especificamente nenhuma praia, valendo para toda a extensão do litoral brasileiro. Selecionamos algumas praias consideradas de luxo, devido à presença de resorts, hotéis, entre outras propriedades privadas que, em geral, são acessíveis apenas ao público mais abastado.
Praia da Ferradura – Rio de Janeiro: Localizada em Búzios, Rio de Janeiro, é uma bacia natural com formato semicircular, lembrando uma ferradura. Sua superfície desce para um morro rochoso, onde se avistam grandes casarões ocupando a encosta. Algacir Marcos Gurgacz/Flickr
Praia do Cupe – Pernambuco: Localizada no município de Ipojuca, a 60 km de Recife, a praia possui cerca de 4,5 km de litoral, sendo uma das maiores da região. Com areia fina e mar de ondas fortes, atrai surfistas de todas as regiões. Matheus Bueno/Flickr
Praia da Conceição – Pernambuco: Localizada em Fernando de Noronha, é uma praia de areia fina, muito apreciada pelos amantes do futebol ou do vôlei de praia. Suas formações rochosas também fazem dele um dos principais pontos para quem gosta de apreciar o pôr do sol. Leonardo Bortolin/Flickr
Jurerê Internacional – Santa Catarina: Localizada ao norte de Florianópolis, a praia tem aproximadamente 3 quilômetros de extensão com areia branca e águas limpas. Apelidada de “Ibiza brasileira”, é cercada por grandes mansões e luxuosos resorts. Como o nome sugere, atrai turistas do mundo todo e, com sua grande concentração de festas, não é o local mais indicado para quem procura um lugar tranquilo para relaxar. Josiane Milanez/Flickr
Praia de Maragogi – Alagoas: Como o nome sugere, a praia está localizada no município de Maragogi, em Alagoas, região popularmente conhecida como “Caribe Brasileiro”. Também chamada de Praia Central, seu litoral se estende por todo o centro da cidade e, apesar da ocupação urbana, possui águas cristalinas. Bruno Messina/Flickr
Praia do Julião – São Paulo: Localizada em Ilhabela, litoral norte do estado de São Paulo, é uma praia de areia branca e fina, com pedras submersas que formam pequenas piscinas naturais. A cerca de 300 metros da praia, existem duas pequenas ilhas de pedra, que servem de habitat a algumas espécies de aves marinhas. Sandra Cárdenas/Flickr
Você precisa ficar alerta
As praias brasileiras são territórios pertencentes à União, de uso comum de todos os cidadãos brasileiros. Conhecidas como “terras marinhas”, são áreas localizadas na zona costeira, margens de rios e lagoas afetadas pela influência das marés, como manguezais e ilhas costeiras e oceânicas – algumas ilhas, por exemplo, são inteiramente ocupadas por propriedades privadas.
Embora as praias particulares sejam proibidas no Brasil, na prática, muitas das chamadas “praias de luxo” têm seu acesso – mesmo público – dificultado pela presença de condomínios com mansões e resorts.
O livre acesso às praias é um direito garantido pela Constituição de 1988, conforme consta no artigo 10 da Lei nº 7.661: “ As praias são bens públicos de uso comum das populações, sendo sempre assegurado o acesso livre e aberto às mesmas e ao mar.
“. Porém, há uma tentativa constante de mudar isso, e é essa que parece ser a intenção da polêmica “PEC das Praias”.
Em 2011, o apresentador Luciano Huck foi multado em R$ 40 mil por limitar o acesso a uma faixa litorânea no entorno de sua mansão na Ilha das Palmeiras, em Angra dos Reis, litoral sul do Rio de Janeiro. Segundo a global, o objetivo era “exercer atividades de maricultura”.
Na ocasião, a juíza Maria de Lourdes Coutinho Tavares, alegou que “a motivação para a colocação do cerco é outra que não a actividade de criação de marisco, ou seja, a maricultura seria um pretexto para legitimar a pretensão, não acolhida pela lei, de tomada de posse de bens para uso comum do povo”.
Entenda o que é a PEC 03/2022 e os riscos que ela representa
A PEC busca modificar a Constituição para retirar “terras de marinha” da posse da União. Essas terras abrangem toda a área do litoral brasileiro, numa faixa de 33 metros de largura, medida do mar em direção ao continente.
Atualmente, a Constituição Federal prevê que essas terras sejam bens da União, sem qualquer relação com a Marinha das Forças Armadas.
As áreas litorâneas abrangidas pela PEC são conhecidas como terras marinhas. Correspondem a uma faixa que se inicia 33 metros após o ponto mais alto atingido pela maré. Ou seja, estas terras não incluem a praia e o mar, geralmente frequentados por banhistas. Esta parte permaneceria pública. O terreno marinho corresponde a uma camada mais recuada da praia, onde geralmente estão localizados hotéis e bares.
De acordo com a legislação em vigor, a União, como proprietária de terrenos marítimos, pode permitir que pessoas e empresas utilizem e até transmitam os terrenos aos seus herdeiros. Contudo, para isso, estas empresas devem pagar impostos específicos.
Como seria com a PEC
O texto discutido no Senado propõe autorização para venda de terrenos marítimos a empresas e pessoas que já ocupam a área.
Pelo projeto, os lotes não seriam mais divididos entre governo e moradores e passariam a ter apenas um proprietário, como um hotel ou resort.
Pelo texto, apenas as áreas ainda não ocupadas e os locais onde são prestados serviços públicos, como portos e aeroportos, permaneceriam sob propriedade do governo.
Confira o documento original na íntegra (fevereiro de 2022)