Vista aérea de um cargueiro navegando no rio Amazonas.
Ricardo Lima | Momento | Imagens Getty
Detentora de um quinto da água doce do mundo, a Amazónia está a iniciar a estação seca com muitos dos seus rios já em níveis criticamente baixos, levando os governos a antecipar medidas de contingência para resolver problemas que vão desde a interrupção da navegação até ao aumento dos incêndios florestais.
“A Bacia Amazônica enfrenta em 2024 uma das secas mais severas dos últimos anos, com impactos significativos em vários países membros”, afirmou nota técnica emitida quarta-feira pela Organização do Tratado de Cooperação Amazônica, que inclui Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Guiana, Peru, Suriname e Venezuela.
Em vários rios do sudoeste da Amazônia, os níveis de água são os mais baixos já registrados para esta época do ano. Historicamente, os meses mais secos são agosto e setembro, quando os incêndios e o desmatamento atingem o pico. Até o momento, os países mais afetados são Bolívia, Peru e Brasil, segundo a OTCA.
Na segunda-feira, a agência federal de águas do Brasil decretou escassez de água em duas grandes bacias, Madeira e Purus, que cobrem uma área quase do tamanho do México. No dia seguinte, o estado do Acre declarou emergência em meio a uma iminente escassez de água em sua principal cidade. Em junho, o estado vizinho do Amazonas adotou a mesma medida em 20 dos seus 62 municípios que, em sua maioria, só têm acesso por água ou ar, mesmo em tempos normais.
Estas medidas foram tomadas mais de dois meses antes do que em 2023, quando a maior parte da bacia amazónica sofreu a pior seca de que há registo, matando dezenas de botos, sufocando cidades com fumo durante meses e isolando milhares de pessoas que dependiam do transporte aquático. As medidas são utilizadas para aumentar o monitoramento, mobilizar recursos e pessoal e solicitar auxílio federal.
A profundidade do rio Madeira, um dos maiores afluentes do Amazonas e um importante curso de água para soja e combustível, caiu abaixo de 3 metros (10 pés) perto de Porto Velho em 20 de julho. Em 2023, isso ocorreu em 15 de agosto. durante a noite, e duas das maiores hidrelétricas do Brasil poderão interromper a produção, como aconteceu no ano passado.
Na cidade de Envira, no Amazonas, os rios próximos tornaram-se muito rasos para navegar. As autoridades locais pediram aos idosos e às mulheres grávidas que se mudassem das comunidades ribeirinhas para o centro da cidade, porque, caso contrário, a ajuda médica poderá não conseguir chegar até eles. Os agricultores que produzem farinha de mandioca não conseguem comercializá-la. Como resultado, o preço deste alimento básico amazônico mais que dobrou, segundo a administração local.
Outra preocupação é o fogo. Houve cerca de 25 mil incêndios de janeiro até o final de julho – o número mais alto para este período em quase duas décadas. Na Amazônia, as queimadas são principalmente provocadas pelo homem e usadas para manejar pastagens e limpar áreas desmatadas.
No Acre, a seca já provocou escassez de abastecimento de água em diversas áreas de sua capital, Rio Branco. Estas comunidades dependem agora da água transportada em camiões, um problema vivido no ano anterior. Entre as duas secas, graves inundações atingiram 19 dos 22 municípios do estado.
“Já se passaram dois anos consecutivos de eventos extremos”, disse Julie Messias, secretária de Meio Ambiente do Acre, à Associated Press. “O resultado é que enfrentamos uma ameaça de escassez de alimentos. Primeiro as colheitas foram inundadas e agora o período de plantação está muito seco”.