Vitrine de requinte
Volkswagen SUV tem o maior requinte da marca no país, mas parece velho
por Eduardo Rocha
Imprensa automática
Os modelos têm funções diferentes dependendo do mercado. O Volkswagen Tiguan, por exemplo, é um modelo com bons volumes de vendas nos mercados centrais da Europa e dos Estados Unidos. Mas em mercados periféricos, como o Brasil, funciona como vitrine da marca. É um veículo dinâmico, bem acabado, versátil e atraente, mas com preço um tanto forçado: R$ 284.590. Esse posicionamento se reflete diretamente nos emplacamentos, em média 300 por mês.
Outro ponto que pesa nessa equação é a idade do projeto. Essa geração do Tiguan foi lançada em 2016. Nos Estados Unidos, o modelo só chegou em meados de 2017, produzido no México, e passou por uma reformulação em 2022, que atualizou visual e conteúdo. Foi esse modelo que a Volkswagen decidiu trazer de volta ao Brasil, depois de ter parado de importá-lo por três anos. Por conta disso, embora a terceira geração do Tiguan já esteja à venda no mercado europeu, o atual Tiguan deverá permanecer nas concessionárias brasileiras até o final de 2025, quando a fábrica de Puebla, no México, será convertida para a produção de modelos elétricos.
Como vitrine de tecnologia, o Tiguan Allspace divide palco com modelos elétricos como o ID.4 e o ID.Buzz, que só estão disponíveis em sistema de locação, sendo, portanto, o modelo mais caro da marca no país. Em relação ao conteúdo, o crossover traz chave para fechaduras e ignição, abertura e fechamento elétrico da tampa do porta-malas com sensor, rodas de liga leve de 19 polegadas, ar condicionado com três zonas de temperatura, bancos dianteiros com ajustes elétricos e ar condicionado, banco do motorista e memória retrovisores, revestimento parcial de couro nos bancos e teto solar panorâmico.
Em termos de interatividade, o crossover traz central multimídia com aplicativos internos, navegação, tela de 8 polegadas e espelhamento sem cabos, que é combinado com carregador de celular por indução. Possui ainda volante multifuncional com teclas sensíveis ao toque, painel de instrumentos Active InfoDisplay, com tela de 10,25 polegadas que pode ser configurada com diversos gráficos e exibição de mapas de navegação. Possui ainda sensores de luz e chuva e iluminação ambiente configurável.
Em termos de segurança, o Tiguan inclui controle de cruzeiro adaptativo, aviso de colisão com reconhecimento de pedestres e frenagem autônoma, inclusive em baixas velocidades para manobras, monitoramento da pressão dos pneus, seis airbags, monitoramento de faixa, sensores dianteiros e traseiros e câmera de ré. Dispõe ainda de estacionamento automático para vagas paralelas e perpendiculares. Sob o capô, o modelo alemão tem motor 2.0 300 TSI, que gera 186 cv e 30,6 kgfm. Possui sistema start-stop e é gerenciado por câmbio automático de oito marchas, com paddle shifters no volante para troca de marchas (Fotos de Eduardo Rocha, Auto Press).
Ponto a ponto
Desempenho – O motor 300 TSI do Tiguan impressiona mais pelo bom torque de 30,6 kgfm do que pela potência de 186 cv. Ele é capaz de embalar um crossover médio de sete lugares com agilidade e até oferece um desempenho levemente esportivo, se necessário. É o mesmo bloco 2.0 turbo que alimenta o Jetta GLI, mas com uma configuração mais suave, que direciona o Tiguan para um uso mais familiar. Portanto, zero a 100 km/h em 9.2 é consistente. Nota 8.
Estabilidade – O Tiguan utiliza a mesma plataforma MQB da maioria dos modelos Volkswagen, mas conta com reforços que proporcionam uma dinâmica louvável. Para se ter uma ideia, seus 1.794 kg tornam este SUV médio 25% mais pesado que o médio compacto Taos. Isto proporciona um comportamento mais sólido e consistente, com reações mais previsíveis e controláveis. A suspensão traseira multilink também oferece uma condução refinada. O controle da carroceria é alto, seja em curvas mais forçadas ou em retas em velocidade de rodovia. A direção também é precisa e comunicativa. Nota 9.
Interatividade – O interior do Tiguan combina com os modelos topo de linha da Volkswagen. Ou seja: a central multimídia conta com botões físicos para volume e sintonia, o ar-condicionado tem painel próprio e o volante multifuncional conta com nada menos que 19 comandos. O único problema é que os botões do volante são excessivamente sensíveis e qualquer toque pode acionar funções indesejadas, como aumentar o volume, mudar a estação do rádio ou cancelar o controle de cruzeiro. Nota 7.
Consumo – Na avaliação de consumo do InMetro, para o sistema de etiquetagem dos veículos, o Tiguan 300TSI teve média de 9,2 km/l na cidade e 11,3 km/l na rodovia com gasolina, com notas C na categoria e D em geral. No mundo real, estes são números muito difíceis de alcançar. Nota 5.
Conforto – A suspensão tem a tradicional firmeza que acompanha os veículos da marca, mas ainda filtra muito bem irregularidades menos radicais. Os assentos são confortáveis e suportam bem o corpo. O espaço interior é generoso nas duas primeiras filas e mais adequado para crianças na terceira. O isolamento é de muito boa qualidade, o motor quase não se nota na cabine e não há ruídos de rolamento ou aerodinâmicos. Nota 9.
Tecnologia – O Tiguan é construído em torno da plataforma MQB, com especificação A2, para modelos médios alongados – a distância entre eixos do SUV é de 2,79 metros. Ainda é um pacote bastante atual, embora o modelo, lançado originalmente em 2016, esteja sendo substituído na Europa, onde agora só conta com versões híbridas ou diesel. A versão vendida no Brasil, produzida no México, deve permanecer em linha até o final de 2025. O modelo também conta com recursos avançados de assistência, com controle de cruzeiro adaptativo, aviso de colisão e frenagem autônoma, entre outros. Nota 8.
Habitabilidade – O Tiguan dá as boas-vindas aos seus ocupantes. O espaço é bom para as pernas e a cabeça. O acesso à cabine é facilitado pela altura intermediária do crossover. O porta-malas na configuração cinco passageiros é bem generoso, com capacidade para 686 litros. Na posição de sete lugares, ainda restam 216 litros. Vários compartimentos de arrumação espalhados pelo interior ajudam no dia a dia. Nota 8.
Acabamento – O Tiguan é um modelo pensado para os mercados centrais na chamada gama topo de gama. Isto se traduz em acabamento de primeira qualidade e montagem especialmente cuidadosa. As superfícies são emborrachadas ou acolchoadas, o couro aplicado nos revestimentos é de boa qualidade e o nível de equipamento é muito satisfatório. Nota 9.
Design – O Tiguan está na reta final de produção e por isso ostenta linhas bem geométricas, com linhas e curvas bem definidas. A nova cara da família Volkswagen, presente no novo Tiguan europeu e também no ID.4, traz linhas um pouco mais orgânicas, com bordas suavizadas. Mas independente disso, o design do SUV é equilibrado e valoriza as dimensões externas (parece maior do que é). Para um modelo de sete lugares, possui volumes e proporções muito bem dimensionados. No interior, as linhas são elegantes e conferem uma imagem de requinte. Nota 7.
Custo/benefício – O Tiguan Allspace briga no topo do segmento de crossovers médio-grandes, onde está o Jeep Commander, também com sete lugares. O modelo Volkswagen custa R$ 284.590, um pouco acima dos R$ 266.990 da versão Overland com motor T270, que tem potência e conteúdo semelhantes. A vocação do crossover fabricado no México não é realmente atingir grandes volumes de registros. Nota 6.
Total – O Volkswagen Tiguan Allspace marcou 76 pontos em 100 possíveis.
Impressões de condução
Alto padrão
Devido à idiossincrasia da Volkswagen, todos os modelos seguem rigorosamente o mesmo conceito de design. Não é incomum que carros de um mesmo fabricante apresentem determinados elementos que criam identificação, mas a marca alemã exagera. A impressão é que se trata do mesmo design adaptado para os diferentes segmentos. No caso do Tiguan, ele acaba sendo confundido nas ruas com o Taos, que é um pouco menor e bem menos sofisticado. Resumindo: o exterior do Tiguan não faz justiça nem ao interior nem à estrutura do modelo.
Para começar, o motor 300TSI oferece um comportamento extremamente equilibrado. Não pretende ser esportivo, mas suporta com muita facilidade os quase 1.800 kg do crossover. De zero a 100 km/h em 9,2 segundos, embora razoável, não demonstra a boa agilidade do modelo em ambientes urbanos. Ao acelerar até 60,70 km/h, o Tiguan é muito rápido e tem boas relargadas – muito por conta do câmbio de oito marchas, que tem reações quase imediatas.
O conjunto de suspensão também é destaque do Tiguan, com ótimo controle da carroceria e boa filtragem de irregularidades. Tudo isso se traduz em um alto nível de conforto, que vem acompanhado de um bom isolamento acústico na cabine e acabamentos de primeira linha. Alguns acabamentos em laca preta, superfícies emborrachadas, estofamento em couro, detalhes cromados, etc.
O volante multifuncional é um case separado. Sem contar a buzina, são 19 botões diferentes que permitem controlar bem as funcionalidades do carro, mas são excessivamente sensíveis. A direção em si tem excelente comunicação com as rodas e é muito precisa. O painel digital Active InfoDisplay (versão VW do Virtual Cockpit da Audi) tem 10,25 polegadas e é altamente configurável, com possibilidade de reprodução de mapas e diversos outros gráficos. A central multimídia tem 8 polegadas com botões físicos – o que facilita o uso de quem está ao volante.
Ficha Técnica
Volkswagen Tiguan Allspace R-Line
Motor: Gasolina, dianteiro, transversal, 1.984 cm³, quatro cilindros em linha, duplo comando de válvulas variável no cabeçote na admissão e no escapamento, com quatro válvulas por cilindro. Com injeção direta de combustível e turboalimentador. Acelerador eletrônico.
Transmissão: Transmissão automática com oito marchas à frente e uma à ré. Tração dianteira. Oferece controle eletrônico de tração e bloqueio eletrônico do diferencial.
Potência máxima: 186 cv a 3.940 rpm.
Aceleração de 0 a 100 km/h: 9,2 segundos.
Velocidade máxima: 215 km/h.
Torque máximo: 30,6 kgfm a partir de 1.500 rpm.
Furo e curso: 82,5 mm x 92,8 mm. Taxa de compressão: 9,6:1.
Suspensão: dianteira independente tipo McPherson, com triângulos inferiores e barra estabilizadora. Traseira multilink independente com molas helicoidais e barra estabilizadora. Oferece controle eletrônico de estabilidade.
Freios: Discos ventilados na dianteira e sólidos na traseira. Oferece assistente de partida em subida.
Pneus: 235/50 R19.
Corpo monobloco Hatch com quatro portas e cinco lugares. Medindo 4,73 metros de comprimento, 1,84 m de largura, 1,66 m de altura e 2,79 m de entre-eixos. Oferece airbags frontais, laterais e de cabeça como padrão.
Peso: 1.794 kg em ordem de marcha.
Capacidade do porta-malas: 216 litros com 7 lugares disponíveis e 686 litros com a terceira fila rebatida.
Tanque de combustível: 60 litros.
Produção: Puebla, México.
Lançamento: outubro de 2023.
Preço: R$ 284.590.