Quando surgiram os primeiros carros, há quase um século e meio, no final de 1800, no ideal do inventor alemão Karl Benz, a principal função era simples, otimizar os movimentos feitos, até então, pelas carroças, carroças , a cavalo, ou mesmo a pé em curtas e médias distâncias, ou em trens a vapor em longas distâncias.
Do modelo pioneiro criado por Benz, até hoje, o mundo viu a indústria automotiva evoluir, se modernizar e se reinventar muito. A primeira virada ocorreu rapidamente, no início da década de 1900, quando Henry Ford criou a linha de produção, que expandiu o uso de automóveis em todo o planeta.
Mesmo com muita evolução, em quase 140 anos de história, um detalhe era, até então, imutável: a forma de adquirir um veículo. Os interessados, sejam pessoas ou empresas, foram atrás de marcas e fabricantes, ou de seus representantes, e adquiriram o modelo desejado para qualquer uso. Mas recentemente surgiu uma forma diferente, a assinatura.
Para utilizar um veículo, uma pessoa – ou empresa – tinha algumas possibilidades: comprar, alugar ou utilizar via táxi ou, como atualmente, transporte via aplicativo. A semelhança em todos esses formatos é que o modelo foi vendido e comprado. Com sistemas de assinatura, como o Sign & Drive da Volkswagen, você pode assinar um veículo por tempo determinado pagando uma mensalidade, como o ID.4, o nosso “Teste da Vez”.
Nenhuma venda
Como chamamos a atenção, o ID.4 não está à venda no Brasil. O primeiro veículo elétrico da Volkswagen aqui só pode ser adquirido por assinatura. Enquanto outras marcas investem cada vez mais em eletrificação, a empresa alemã decidiu investir em um formato bem menos tradicional para tentar impulsionar a linha ID por aqui.
No formato de franquia mensal de 1.500 quilômetros rodados e plano de utilização de 24 meses, a assinatura do ID.4 custa R$ 6.990 e inclui o carro propriamente dito, documentação, impostos, seguro, manutenção e assistência 24 horas. Ou seja, ao final do contrato, o motorista terá gasto cerca de R$ 170 mil, bem menos do que custaria o SUV, algo na casa dos R$ 400 mil.
Pressione “reproduzir”
Não é apenas o formato de aquisição que torna o ID.4 único dentro da Volkswagen no Brasil. O visual do SUV, quase um crossover, também é exclusivo dele e em nada lembra seus irmãos vendidos por aqui. Design, como costumamos dizer, é algo muito pessoal, mas não há como negar que o carro elétrico tem o estilo mais moderno entre os modelos da marca.
Criado desde o início para ser um carro elétrico, o ID.4 tem frente fechada, sem a grade tradicional, apenas na parte inferior do para-choque há reentrâncias. O conjunto óptico full LED deixa o visual ainda mais elegante, com faróis finos. Um detalhe interessante é que os vincos no capô ficam nas laterais da peça e a frente do SUV tem perfil mais alto.
Nas laterais, inserções pretas nas cavas das rodas e na parte inferior das portas evocam o estilo de um veículo utilitário esportivo. O elegante pilar C tem uma aplicação transparente que se estende a partir dele, passando pela parte superior das janelas e em direção à frente do veículo. A traseira é muito volumosa e possui um grande spoiler no topo da tampa do porta-malas.
Se o estilo é mais elegante por fora, por dentro tem um ar futurista. Em primeiro lugar, existe uma grande mistura de cores. O aparelho que testamos tinha detalhes em branco, marrom e preto, sendo este em tons foscos e brilhantes. O acabamento é primoroso, com materiais de alta qualidade, peças bem encaixadas e sem rebarbas de qualquer tipo. Um ponto bacana são os pedais, que possuem o símbolo de “play” no acelerador e “pause” no freio.
O volante é um case à parte, em tom claro, é, de longe, o que há de mais diferente da marca aqui, sem falar nos botões que são sensíveis ao toque, tornando o uso muito mais prático. Não só na peça, todos os controles, com exceção das janelas – que abrem e fecham pelas mesmas teclas, o que exige tempo de adaptação – são sensíveis ao toque. Outro destaque da cabine é o teto solar gigante, que não abre, mas garante uma visibilidade absurda para o exterior.
O console central é funcional e não atrapalha a vida a bordo, ficando na altura dos bancos dianteiros. Na traseira, dois adultos viajam com extremo conforto, um quinto é um pouco apertado, mas nada grave, e possuem saída de ar com controle de temperatura (tem três zonas) e duas portas USB-C extras. O porta-malas comporta excelentes 543 litros.
Topo do topo
Quando dizemos que o ID.4 é o melhor carro da Volkswagen que já chegou ao mercado brasileiro, muito se deve também à lista de equipamentos, que é para lá de generosa. Em relação aos itens de série, aqui a marca oferece a versão Pro Performance, o SUV bate de frente com rivais premium e até de luxo.
Vem com bancos dianteiros com ajustes elétricos, memória, aquecimento e massagem, volante multifuncional touch, painel de instrumentos com tela digital de 5,3 polegadas conectada à coluna de direção, iluminação interna em LED personalizável, teto solar panorâmico, ar-três- ar condicionado digital zone, para-brisa antiembaçante, chave sensorial, botão de partida e porta-malas com abertura elétrica e função “mãos livres”.
A central multimídia de 10 polegadas poderia ser um pouco maior, tem conexão sem fio para Android Auto e Apple Carplay e quatro portas USB. Um pequeno descuido é que não há ventilação no carregador de celular por indução, o que acaba esquentando o aparelho, com tantas funções ligadas ao mesmo tempo.
Em termos de segurança, controlo de velocidade adaptativo, travagem de emergência autónoma, aviso de saída de faixa, sete airbags, assistentes de mudança de faixa e saída traseira e manutenção de faixa, assistência ao estacionamento, monitorização de ângulo morto, câmara 360º e farol IQ.Light Matrix, que é um show em si. Ele não só ilumina muito bem, mas também segue as curvas com maestria, acompanhando o movimento do volante.
Força elétrica
Sob o capô, o ID.4 possui um trem de força elétrico de 150kW que envia toda a potência de 204 cavalos e 31,6kgfm de torque para o eixo traseiro. Como resultado, o motor gera força para empurrar e não puxar o SUV, o que torna a condução um pouco mais divertida.
Ao apertar “play”, o modelo acelera bem, principalmente pela força no eixo traseiro. O torque é bom, mas para um modelo elétrico poderia ser melhor. Os 31,6kg são suficientes, por não ser um veículo com pegada esportiva, para fazer saídas boas e seguras em alta velocidade. Cavalos elétricos garantem ultrapassagens e retomadas eficientes, sempre com segurança.
Como todo carro elétrico, não há barulho algum, o que a princípio é estranho, mas logo o motorista se acostuma com a calma da vida a bordo. Assim como os modelos desse tipo, ele possui o sistema “one pedal”, em que basta diminuir a pressão no acelerador para diminuir a velocidade, sendo ainda possível fazer o veículo parar sem precisar pisar no freio.
Além do baixo ruído – quase nenhum, apenas o dos pneus em contato com o solo –, o conforto a bordo também é garantido por um sistema de suspensão que funciona muito bem. Mesmo em estradas asfaltadas “a la Brasil”, ele absorve bem as muitas imperfeições do solo, sem passá-las para dentro da cabine, tornando a viagem muito confortável.
Na tomada
A bateria do ID.4 tem capacidade de 77 kWh, o que, segundo a Volkswagen, segundo padrão Selo Conpet do Inmetro, garante autonomia de 370 quilômetros. O gasto energético é semelhante ao consumo de combustível nos modelos tradicionais, também depende muito do estilo de condução do motorista. Durante nosso teste, foi como esperado.
Um problema é que, ao carregar, o padrão é apenas até 80% da carga. E sempre se atualiza. Ou seja, o motorista precisa ficar atento na hora de carregar, principalmente se for utilizá-lo para um trajeto mais longo. O tempo varia de acordo com o tipo de carregador, em uma wallbox eram cerca de oito horas na tomada.
A opinião do Diário Motor
O ID.4 é, de longe, o melhor carro que a Volks já vendeu no Brasil. O modelo é muito melhor do que qualquer outro modelo alemão disponível aqui. A pena, embora certamente fosse muito cara, é que não será vendido, apenas “alugado”, neste caso, assinado. Ele poderia, pelo menos, servir de inspiração para seus irmãos brasileiros, principalmente na área tecnológica.
Com um visual, na opinião deste escritor, espetacular, um interior que mistura bem conforto e tecnologia, e uma lista de equipamentos “de tirar o chapéu”, o fato de ser elétrico é apenas um plus, principalmente para quem pensa em um modelo do tipo. Infelizmente não temos como afirmar se vale ou não a pena a compra, pois não está à venda, mas a nota é contundente 9,5.
Ficha Técnica
Motor: elétrico
Potência máxima: 204 cv
Torque máximo: 31,6kgfm
Autonomia: 370 quilômetros
Direção: elétrico
Suspensão: independente em ambos os eixos
Freios: disco na frente e tambor atrás
Porta-malas: 543 litros
Dimensões (A x L x C x EE): 1.612 x 1.852 x 4.584 x 2.766 mm
Preço: não está à venda (inicial R$ 6.990 por assinatura)