Função dupla
O manual Montana LT tem vocação para o trabalho, mas também é fonte de prazer
por Eduardo Rocha
Imprensa automática
A transmissão automática está se espalhando rapidamente por todos os segmentos de mercado. E esse fenômeno tem empurrado as transmissões manuais para nichos bem definidos, como compactos básicos e veículos de trabalho. É o caso do Chevrolet Montana LT. Este é um modelo que adotou o conceito de SUP, ou picape utilitária esportiva, desde o projeto inicial. Ou seja: traz para a terceira coluna as características de um SUV. Nessa configuração, o câmbio automático seria um complemento natural, enquanto o manual representaria apenas um benefício para condições de trabalho mais severas, com ganho de robustez e redução de preço – o Montana LT custa R$ 136.790, R$ 14 mil mais barato do que LTZ AT.
Acontece que o câmbio manual de seis marchas do Montana combinou muito bem com o motor 1.2 de três cilindros, com 132/133 cv e 19,4/21,4 kgfm com gasolina/etanol, o que torna a versão LT interessante até para quem quer um carro para a vida cotidiana. É verdade que o pacote de equipamentos não é dos mais generosos, mas também não falta nada de essencial.
O modelo conta com travas elétricas, retrovisores e vidros, câmera de ré, seis airbags (frontais, laterais e de cortina), alarme, alerta de colisão, monitoramento de pressão dos pneus, protetor de caçamba, capota marítima, rack de teto, rodas de aço aro 17, sensor de luz, analógico ar condicionado, câmera de ré, computador de bordo, painel de instrumentos digital de 3,5 polegadas, volante multifuncional, central multimídia com tela sensível ao toque de 8 polegadas, rádio e espelhamento sem fio via Android Auto e Apple CarPlay.
De série, o modelo possui capota marítima, mas a versão avaliada contou com capota elétrica, um dos muitos acessórios desenvolvidos pela marca para melhorar a usabilidade do modelo no dia a dia. Nesse sentido, foram desenvolvidos itens como bandejas separadoras para organizar objetos no balde, extensor de balde, redes separadoras, etc.
Em 2023, após chegar efetivamente ao mercado em março, o Montana manteve vendas médias de 3 mil unidades por mês, quase três vezes a média de registros da geração antiga. Em 2024, por conta de um movimento dos rivais, que sentiram a chegada da picape Chevrolet, essa média foi reduzida para pouco mais de 2 mil unidades por mês. Mas sabe-se que nem sempre as vendas refletem qualidade. E é o caso da Montana, que é uma picape versátil, com bom motor, econômica e com câmbio manual, é extremamente agradável de dirigir (Fotos de Eduardo Rocha, Auto Press).
Ponto a ponto
Desempenho – O motor 1.2 turbo da Montana dá muita energia à picape Chevrolet e na versão LT é bastante auxiliado pelo câmbio manual de seis marchas. Os 133 cv e 21,4 kgfm aguentam facilmente os 1.282 kg do modelo. A partir da interface mais direta entre motorista e veículo é possível obter um desempenho mais adequado, seja ele mais esportivo ou mais econômico. Apesar das boas largadas e relargadas, por ser um carro mais voltado para o trabalho, possui escalonamento de marchas e mapeamento de motores que favorecem a economia – na cidade, ele consome 7,5% menos que a versão com câmbio automático. Ainda assim, tem um bom tempo de zero a 100 km/h, menos de 12 segundos. Nota 8.
Estabilidade – A suspensão e a estrutura monocoque – basicamente a mesma do Tracker – estão muito bem harmonizadas e oferecem bom controle da carroceria sem comprometer o conforto. Na traseira, o modelo possui batente de dois estágios, para aproximar o comportamento ao ser carregado ou descarregado. Nas curvas, o comportamento é um pouco mais neutro quando carregado, mas isso se reflete no desempenho. Nota 8.
Interatividade – A Chevrolet criou uma tradição na organização de controles que facilita a vida de quem utiliza os carros da marca. O Montana conta com espelhamento de celular sem fio, roteador Wi-Fi, sensor de luz e chuva, câmera traseira e computador de bordo. O destaque, porém, fica para o câmbio manual, muito agradável de usar pelos engates precisos, secos e suaves, além da embreagem macia. Nota 8.
Consumo – O Montana com câmbio manual obteve índices bem superiores nos testes do InMetro que as versões automáticas, principalmente na cidade. A picape apresentou consumo médio de 8,3/9,6 km/l com etanol na cidade/rodovia e 12,0/13,6 km/l com gasolina, nas mesmas condições. A classificação do Conpet foi A na categoria e C geral. Nota 8.
Conforto – A cabine oferece espaço e ergonomia, tanto nos bancos dianteiros quanto nos traseiros – embora na segunda fila o ângulo vertical do encosto seja um pouco desconfortável. A suspensão, por sua vez, absorve bem os desníveis do piso. O isolamento acústico só é perturbado pelas vibrações geradas pelo propulsor. Nota 8.
Tecnologia – O Montana LT traz o mínimo de recursos para equilibrar preço competitivo e recursos de segurança e conforto. Ele vem com alertas de pressão dos pneus e colisão frontal, além de seis airbags e câmera de ré. A central multimídia é bem completa, com espelhamento sem fio e controle no volante multifuncional. Para a proposta do veículo, este pacote é adequado. Nota 7.
Habitabilidade – O Montana possui bons nichos no console central e nas portas, que são bastante úteis. Em relação à carga, não há reclamações possíveis. A caçamba tem capacidade para 874 litros e transporta até 600 kg – com quatro adultos médios, ainda há 300 kg disponíveis para carga. A boa altura do modelo facilita o acesso e a saída do veículo. A versão já vem com protetor de caçamba, capota marítima e tampa com alívio de peso para movimentação, que melhoram a usabilidade da picape. Nota 9.
Acabamento – A versão LT apresenta padrão de revestimento em tecido de boa qualidade e agradável ao toque. Há muito plástico rígido nos painéis, o que facilita a limpeza e oferece resistência adequada à finalidade do modelo. A combinação de materiais é de bom gosto, com detalhes em preto brilhante, cromado e prata. O painel aliado à tela da central multimídia confere ao carro um visual moderno por dentro. Nota 7.
Design – O Montana apresenta luzes de posição elevada e conjuntos de luzes principais no centro do para-choque. É um arranjo cada vez mais comum que na verdade torna o carro mais fácil de ser visto por pessoas de fora e melhora o desempenho da iluminação em um carro alto como este. O balde também é particularmente alto e imponente. Para equilibrar o visual e aumentar a largura da picape, alguns elementos horizontais foram introduzidos, como o acabamento em preto brilhante que conecta as luzes e os faróis foram colocados logo nas extremidades do para-choque. Nota 7.
Custo/benefício – Por R$ 136.790, o Montana LT concorre tanto com versões top de picapes compactas, como a Fiat Strada, quanto com versões básicas de picapes médias compactas, como a Fiat Toro. No final das contas, apenas o Renault Oroch tem tamanho e conteúdo compatíveis, mas a picape Chevrolet é um pouco mais completa e potente que as versões 1.6 e mais despojada e menos potente que as versões top. Em última análise, o modelo Chevrolet apresenta um bom equilíbrio entre preços e equipamentos. Nota 7.
Total – O Chevrolet Montana LT marcou 77 pontos em 100 possíveis.
Impressões de condução
Tudo em mãos
A transmissão manual muda tudo para o Montana. Na versão LT, a picape Chevrolet é raiz, voltada para o trabalho ou para quem quer ter maior controle na hora de dirigir. Mas também não é o máximo em simplicidade – esta função está disponível na versão MT. Possui recursos como câmera de ré e capota marítima, que complementam os itens de série da linha, como ar-condicionado analógico, seis airbags e alertas de colisão. Uma vantagem óbvia é ter um tamanho mais adequado à cidade, em comparação com picapes médias compactas, como a Ford Maverick, Ram Rampage e Toro, e mais espaçosa e confortável que as compactas Fiat Strada e Volkswagen Saveiro. O único rival direto é a Renault Oroch, que praticamente abriu esse nicho em 2015 e já sente o peso da idade.
A característica definidora do Montana LT é o seu trem de força. Possui o mesmo motor do restante da linha, um 1.2 Turbo com 132/133 cv e 19,4/21,4 kgfm, mas se destaca pelo câmbio manual. Esse é um item que baixa o preço em cerca de 10% – é R$ 14 mil mais barato que a versão LTZ – e acaba equipando a picape para funções profissionais. As capacidades de Montana também se prestam a isso. Ele foi projetado para transportar até 600 kg e 874 litros e possui configuração voltada para a economia.
O desempenho não é impressionante, embora seja bastante convincente. A suspensão é bem afinada, com ajuste firme, mas sem abrir mão do conforto. A aceleração e o reinício são ainda mais lentos que nas versões automáticas, mas não há sensação de turbolag. O Montana se adapta bem à cidade, tanto pelo tamanho quanto pela postura elevada do motorista, que oferece uma ótima visão do trânsito. Na estrada, o Montana também apresenta um lado interessante, tanto pela potência e neutralidade quanto pela economia.
Por dentro, a picape aproveita bem sua altura e posiciona os ocupantes mais eretos, o que melhora o aproveitamento do entre-eixos de 2,80 metros. A cabine é espaçosa, com bom espaço para pernas e cabeça. Ao mesmo tempo, não é tão alto que dificulte o acesso ao interior. O nível de equipamento é condizente com a proposta do modelo de entrada, mas com alguns confortos adicionais, como capota marítima, câmera de ré e retrovisores com ajuste elétrico, ausentes na versão mais barata.
Ficha técnica
Chevrolet Montana LT
Motor: Etanol e gasolina, dianteiro, transversal, 1.199 cm³, com três cilindros em linha, quatro válvulas por cilindro, turbocompressor, injeção direta e controle eletrônico de aceleração.
Transmissão: Transmissão automática com seis marchas à frente e uma marcha à ré. Tração dianteira. Controle eletrônico de tração.
Potência: 132/133 cv a 5.500 rpm com etanol/gasolina.
Torque: 19,4/21,4 kgfm a 2 mil rpm com etanol/gasolina.
Furo e curso (mm): 75 X 90,5.
Taxa de compressão: 10,5:1.
Aceleração 0-100 km/h: 11,7 segundos.
Velocidade máxima: 160 km/h.
Suspensão: dianteira independente tipo McPherson, barra estabilizadora e amortecedores hidráulicos a gás. Traseira com eixo de torção, amortecedores hidráulicos a gás e batentes duplos. Controle eletrônico de estabilidade.
Pneus: 215/55 R17.
Freios: Discos ventilados na dianteira e tambores na traseira, com ABS.
Carroceria: Picape monocoque cabine dupla com quatro portas e cinco lugares. Medindo 4,72 metros de comprimento, 1,80 m de largura, 1,66 m de altura e 2,80 m de entre-eixos. Oferece airbags frontais, laterais e de cabeça.
Peso: 1.282 kg com carga útil de 600 kg.
Capacidade da caçamba: 874 litros.
Tanque de combustível: 44 litros.
Produção: São Caetano do Sul, São Paulo, Brasil.
Preço: R$ 136.790 (R$ 138.790 com pintura metalizada).