Contradição conceitual
Mercedes cupê tem grande estabilidade, mas é caro e pouco potente
por Jorge Beher
Autocosmos.com/Chile
Exclusivo no Brasil para Auto Press
A reforma promovida pela Mercedes-Benz em 2023 não mudou em nada o destino do CLA. As linhas seguiram o mesmo estilo apresentado anteriormente no Classe A. A função é a mesma: ser um modelo de entrada com algum glamour. No Brasil, a gama cupê de quatro portas é muito curta. A versão básica é o CLA 200, modelo com o qual foi realizada a avaliação. E daí para a versão AMG 35 4Matic há um verdadeiro abismo. O CLA 200 custa R$ 336.900, tanto na nova versão com acabamento mais sóbrio, Progressive, que chegou para a linha 2025, quanto na configuração com visual esportivo, AMG Line, que foi mantida. A versão verdadeiramente AMG custa surpreendentes R$ 496.900. A linha vendeu em média 60 unidades por mês em 2024, sendo 88% do CLA 200.
Em termos de dimensões, o restyling não alterou as dimensões externas. O CLA tem 4,69 metros de comprimento, 1,83 m de largura, 1,44 m de altura e 2,73 m de distância entre eixos. O porta-malas tem capacidade para 440 litros. O estilo segue o conceito original da primeira geração do cupê, com traços arrojados e atraentes. Porém, houve uma certa rejeição ao conjunto traseiro, com encaixe bastante acentuado. Essa foi a principal modificação desta segunda geração, lançada em 2019, com traseira mais arrebitada e lanternas traseiras alongadas. À medida que o carro também ficou maior e ficou um pouco mais habitável por dentro.
Para esta renovação, foram utilizados os mesmos códigos de design do Classe A na dianteira – especialmente porque, tecnicamente, é o mesmo carro com uma distância entre eixos mais longa. A grade do modelo tem padrão de estrela cromada, com grande logotipo da marca no centro ladeado por dois frisos simples. O para-choque é igual ao do Classe A, com parte inferior em formato de onda com dois grandes aglomerados nas extremidades. As luzes traseiras mantiveram a sua forma externa, mas a distribuição das luzes foi revista.
Por dentro, as principais mudanças são duas: a adoção do novo volante dos modelos Mercedes-Benz e a eliminação dos controles centrais físicos do sistema MBUX. A falta de botões dificulta ao condutor a utilização da central durante a condução, embora a marca tente compensar com uma interface mais amigável e funcional, com espelhamento sem fios. São duas telas de 10,25 polegadas combinadas no mesmo console – um design copiado ad nauseam por outras marcas.
Embora a montagem seja tipicamente Mercedes, sempre de boa qualidade, há detalhes importantes que mancham toda a experiência de conduzir um automóvel da marca alemã. Como os paddles plásticos no volante, os comandos satélites, as maçanetas integradas às portas e o excesso de acabamentos em preto brilhante, que fazem sobressair o lado mais econômico deste carro. Faltam também equipamentos considerados padrão neste segmento, como climatização de dupla temperatura e áudio premium.
Em termos de espaço, como já foi referido, o CLA 200 é maior que a geração anterior, mas não deixa de ser um carro para quatro adultos. Apesar de ter um porta-malas bastante decente, não é um carro familiar. Quem compra fica de olho na silhueta e na qualidade do passeio.
Em termos de segurança, a estrutura e a engenharia do Mercedes-Benz CLA são inegáveis. E vem com o pacote ADAS básico, com exceção do assistente de faixa. Possui ainda nove airbags, incluindo airbags de joelho, um central para que os ocupantes dianteiros não sejam chicoteados em caso de colisão e airbags laterais traseiros, que não são comuns. Possui ainda espelhos fotossensíveis, assistente ativo de vento cruzado como subfunção do sistema ESP, alarme volumétrico, acesso Keyless e monitor de fadiga.
O CLA 200 é um carro que tem um preço (alto) definido pela engenharia. Mesmo que o motor não seja muito impressionante. É um 1,33 litro turbo, que produz 163 cv e 27,5 kgfm – com pequenas alterações, o mesmo utilizado pela Renault no Brasil. Quem compra um modelo Mercedes-Benz procura o design e o prestígio da marca, mas também uma certa esportividade, que nesta versão não é possível encontrar na dose desejada. No caso do cupê de entrada da marca alemã, para agregar cara e coração, é preciso pagar 50% a mais para conseguir a configuração preparada pela AMG (fotos publicitárias).
Impressões de condução
Muito chassi, pouco motor
Uma das coisas positivas do CLA 200, e se é possível perceber a personalidade de um Mercedes-Benz, é a sua engenharia. Tudo funciona muito bem: o câmbio é muito inteligente e ajusta rapidamente as marchas de acordo com o percurso ou a solicitação do seu pé direito. Ele não está vinculado a um cronograma padrão. Ele segura o equipamento onde é necessário e avança quando necessário. Esse recurso é essencial para aproveitar ao máximo esse motor de 163 cv e 27,5 kgfm.
A potência e o torque são suficientes para o uso diário e para enfrentar a estrada, mas não fornecem nem remotamente o nível de empuxo que você gostaria de experimentar em um carro com uma estrela de três pontas na frente. Na verdade, se a caixa não parece tão rápida quanto o esperado é porque falta um pouco de potência. Esse é o principal problema da troca da versão 250, vendida até 2023, e da atual 200. A Mercedes quis mirar no preço e acabou vitimando o desempenho.
Esta sensação é ainda mais exacerbada quando confrontado com o que há de melhor no CLA: o chassis. Simplesmente requintado e com a ajuda da suspensão traseira multilink, o carro exala uma qualidade de condução impressionante. É firme o suficiente para combinar com a personalidade deste carro, mas com amortecimento que não salta, não parece seco e oferece equilíbrio e comunicação na direção. A isto se soma um bom poder de frenagem e uma direção precisa, comunicativa, ágil e com boa dirigibilidade. A maior dificuldade em relação ao CLA 200 é ter um motor incapaz de entregar a adrenalina que a plataforma do modelo é capaz.
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