Brasil e Chile assinaram 19 acordos bilaterais e atuam nesta segunda-feira, 5, durante o Fórum Empresarial Chile-Brasil, promovido pela ApexBrasil, que contou com a presença dos presidentes Luís Inácio Lula da Silva e Gabriel Boric. O Brasil é atualmente o terceiro maior parceiro comercial do Chile, com um intercâmbio anual de 12,5 bilhões de dólares.
Os acordos assinados abrangem diversas áreas, com destaque para os tratados de reconhecimento de carta de condução, um memorando entre as agências dos dois países para fortalecer o turismo bilateral, bem como acordos nas áreas da agricultura, tecnologia, energia e sustentabilidade.
O presidente Lula enfatizou a parceria na transição energética. “Ao integrar as cadeias de hidrogênio verde, minerais críticos e veículos elétricos, poderemos agregar valor à nossa produção e ocupar posições de destaque no mercado internacional”, acrescentou Lula.
Presente na reunião, o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, destacou a abertura de novos mercados para os produtos agrícolas brasileiros. O presidente da ApexBrasil, Jorge Viana, destacou que a expectativa desses investimentos pode chegar a 82 milhões de reais.
O economista Igor Lucena, doutor em Relações Internacionais e CEO da Amero Consulting, estima que o poder de compra dos cidadãos chilenos seja 50% maior em relação ao dos brasileiros, o que significa que o país tem grande capacidade de absorver produtos de valor agregado produzidos em Brasil, como automóveis, linha branca, entre outros.
“Hoje os principais produtos comercializados entre os dois países são o petróleo e o cobre, commodities, então essa relação comercial ainda tem muito espaço para crescer, e o Chile ainda tem um grande trunfo que é a estabilidade política, não há investimento seguro sem política de estabilidade”, acrescentou Lucena.
Parcerias estratégicas
O fórum contou com a participação de cerca de 500 empresários brasileiros e chilenos. Durante o evento, foi destacada a importância de uma cooperação mais estreita em áreas como agronegócio, sustentabilidade, tecnologia e energia.
Segundo o mapa de oportunidades da ApexBrasil, existem 1.745 oportunidades de produtos brasileiros no Chile, com destaque para máquinas e equipamentos de transporte, combustíveis minerais, produtos alimentícios e artigos manufaturados.
O estudo também revelou chances de crescimento no comércio, visto que o Chile tem um dos maiores PIB per capita da América do Sul (17,1 mil dólares). A projeção de crescimento do PIB chileno para 2024 é de 2,5%.
As principais áreas abrangidas foram turismo, agricultura, energia, tecnologia e sustentabilidade, que podem elevar as relações comerciais para além da troca de mercadorias
Relacionamento comercial
Nos negócios, o Brasil é atualmente o terceiro maior fornecedor do Chile, com 11% de participação no mercado interno do país. Em 2023, as exportações brasileiras para o Chile totalizaram 7,9 bilhões de dólares, e as importações, 4,3 bilhões de reais. Com os novos acordos espera-se um crescimento substancial destes números, beneficiando ambos os lados.
Gabriel Boric, presidente do Chile, reforçou a importância destas novas parcerias para os dois países e citou a amizade histórica, “que se expressa nos 19 acordos que foram assinados”, disse. O governo chileno espera desenvolver, nos próximos dois anos, cinco novos projetos de exploração de lítio no âmbito da parceria público-privada que visa duplicar a produção do mineral na próxima década. O setor interessa às empresas brasileiras.
Segundo a InvestChile, agência local de promoção de investimentos, os setores chilenos mais atrativos para os brasileiros são: agricultura, finanças e, principalmente, tecnologia. O governo chileno desenvolveu o Start-Up Chile, programa de aceleração pelo qual já passaram mais de 1.600 startups, incluindo diversas brasileiras. Segundo a agência, os brasileiros são a fonte de recursos mais importante para o país na América Latina.
Integração e turismo
A integração regional e o aumento do fluxo turístico entre Brasil e Chile são prioridades. O aumento do número de voos entre os dois países quase duplicou o fluxo de turistas no ano passado.
Com o novo plano de trabalho do turismo espera-se consolidar o Chile como um dos destinos preferidos dos brasileiros, além de melhorar a conectividade na América do Sul através de grandes rotas rodoviárias que incluem o Chile.
“Foi o aumento do número de voos que permitiu que o fluxo de turistas entre os nossos países quase duplicasse no ano passado. Com o plano de trabalho turístico que assinamos hoje, o Chile tem tudo para se consolidar como um dos destinos mais importantes procurados pelos brasileiros”, afirmou Lula em seu discurso.
Corredor Bioceânico
Brasil e Chile, juntamente com Paraguai e Argentina, são parceiros do Corredor Bioceânico, que ligará o Centro-Oeste brasileiro aos portos do Norte do Chile.
Este empreendimento promete criar novas oportunidades para as economias exportadoras dos países envolvidos, melhorando a eficiência logística e fortalecendo a integração regional.
Cooperação climática
No contexto ambiental, Lula e Boric destacaram o compromisso em manter a cooperação diante de catástrofes naturais e preservar seus maiores biomas, a Amazônia e a Antártida. “Os incêndios de 2023 no Chile e as enchentes deste ano no sul do Brasil questionam o negacionismo climático e reforçam a necessidade de cooperação. A proposta chilena de estabelecer um mecanismo regional de resposta a catástrofes tem o nosso apoio. Sem colaboração também não é possível combater o crime. Hoje assinamos um tratado de extradição e instruímos nossas equipes a ampliar as ações de inteligência e operações conjuntas”, disse Lula.
“Somos atores essenciais no debate sobre as mudanças climáticas, devido às nossas ligações com dois dos biomas mais importantes do planeta. O risco de a Amazônia e a Antártica atingirem pontos sem retorno nos afeta diretamente. Ambos estamos comprometidos com o potencial da bioeconomia e queremos aprofundar o já sólido histórico de colaboração entre nossas estações antárticas”, acrescentou Lula.
LATAM investirá 2 bilhões de dólares no Brasil
No encontro com Lula, o CEO do grupo LATAM, Jerome Cadier, assinou protocolo de intenções com o Ministério do Trabalho e Emprego do Brasil para qualificar mão de obra e empregá-la principalmente nas instalações da empresa em São Carlos (SP), a maior aeronave centro de manutenção na América do Sul, com potencial para ser um verdadeiro hub aeroespacial brasileiro.
Além disso, o grupo anunciou que investirá US$ 2 bilhões no Brasil nos próximos dois anos, com foco em produtos, tecnologias e serviços de passageiros, e em atividades de manutenção aeronáutica.
Atualmente, a LATAM Brasil emprega 19 mil funcionários no país, sendo 1.800 deles somente no centro de manutenção de São Carlos. O Grupo LATAM surgiu com a fusão entre a companhia aérea chilena LAN e a brasileira TAM, em 2010.