A candidata a prefeita de São Paulo Tabata Amaral (PSB) levantou a voz contra a tentativa de Guilherme Boulos (PSOL) de obter o chamado “voto útil” no primeiro turno. Segundo ela, é um ato de “desespero”.
“Votação útil” é uma estratégia pela qual um eleitor escolhe um candidato que não seria necessariamente sua primeira opção, para evitar um “mal maior”.
Os aliados de Boulos partem do raciocínio de que a união progressista ao seu redor impediria um segundo turno entre Ricardo Nunes (MDB) e Pablo Marçal (PRTB).
Tabata, por sua vez, sustenta com base em pesquisas que Boulos não conseguiria vencer Nunes no segundo turno e ainda poderia perder para Marçal. Seria, portanto, um “voto inútil”, na sua opinião.
“Esse é o desespero de Guilherme Boulos. Que voto útil é esse que coloca um candidato no segundo turno que ele perde?”, questionou o candidato, nesta quarta-feira, 2, durante pauta no centro. “É o desespero de uma candidatura que tem 66 milhões de reais de dinheiro de campanha declarado e estagnou.”
Ao insistir na ofensiva, Tabata afirmou que Boulos não consegue dialogar com a população e que o trabalho de um prefeito difere de “levantar cartaz”.
A receita da campanha de Boulos ultrapassa 65,6 milhões de reais. Quase todo o dinheiro vem do Fundo Eleitoral do PSOL (35 milhões) e do PT (30 milhões).
O PSB, por sua vez, transferiu pouco mais de 14,2 milhões de reais para a candidatura de Tabata. Não há festas associadas a este ingresso.
O debate sobre o “voto útil” em São Paulo não é trivial, dado o equilíbrio da disputa às vésperas do primeiro turno. Uma pesquisa Real Time Big Data divulgada esta quarta-feira mostra Boulos com 26% das intenções de voto, seguido de Nunes e Marçal, com 25% cada. Tabata aparece com 11%, índice que, apesar de não levar ao segundo turno, pode ser decisivo para o rumo do pleito.
A discussão ganhou força nas redes sociais esta semana, após um manifesto de artistas e intelectuais a favor de um “voto útil” pró-Boulos, mas o tema já estava na agenda ativista há semanas.
Ciente do movimento, Tabata mudou sua postura em relação ao deputado federal nos últimos dias. No debate da Record TV, no sábado, 28, ela questionou Boulos sobre supostas mudanças de opinião ao longo dos anos (por exemplo, em relação à Venezuela).
Na última segunda-feira, em reunião promovida pela Folha de S.Paulo e UOLela sugeriu que poderia haver “descontrole total” nas contas públicas caso o candidato do PSOL vencesse. Em ambos os casos, Boulos evitou o confronto e, no debate mais recente, disse que não responderia “a este tipo de ataque”.
“Estamos do mesmo lado”, acrescentou Boulos a Tabata. “Acredito que você faz parte do campo progressista, o mesmo campo. Apesar das diferenças que temos, acredito que estamos do mesmo lado.”
Guilherme Boulos pisa em ovos no diálogo com Tabata por uma dinâmica que vai além da eleição paulista: ele é candidato do presidente Lula (PT) e ela é representante do vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB). Caso sua ida ao segundo turno se confirme, o candidato do PSOL espera contar com o apoio do deputado, aliança que poderia se tornar inviável caso houvesse um apelo aberto por um “voto útil” neste momento.
CartaCapital Ele procurou o conselho de Boulos, que não comentou oficialmente as declarações de Tabata. Os integrantes da campanha também optaram por não comentar até a última atualização deste texto. O espaço permanece aberto.