O ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal, manteve suspenso o pagamento de emendas ao Pix, modalidade aprovada pelo Congresso Nacional em 2019 em que o dinheiro público é enviado pelos parlamentares para seus redutos eleitorais sem precisar passar pelos ministérios.
A decisão, assinada nesta quinta-feira, 8, atende parcialmente pedido do procurador-geral da República, Paulo Gonet. Na quarta-feira, a PGR pediu ao Tribunal que declarasse inconstitucional este meio de pagamento.
Somente são autorizadas transferências que atendam aos requisitos de transparência e rastreabilidade. A transferência de dinheiro também é permitida no caso de obras em andamento para o resposta a situações de calamidade públicasegundo o ministro.
Na avaliação de Dino, esse modelo de transferência precisa de inovações que permitam o controle da aplicação dos recursos para evitar um “perigoso e inconstitucional jogo de empurra-empurra”, em que ninguém é responsável pela execução correta e transparente.
“Agora, se é o parlamentar quem dita onde será gasto o dinheiro, se o instituto for mantido na Constituição, são necessárias inovações simétricas nos sistemas de controle, para que a Constituição seja cumprida”, escreveu o ministro. “Só o reforço da transparência e da rastreabilidade pode resolver este problema, inclusive tendo em vista esse novo tipo de função parlamentar: a de coordenador de despesas.”
O pedido da PGR foi baseado em levantamento feito por organizações não governamentais, indicando aumento significativo nos valores destinados às emendas do Pix. Eles eram 6,7 bilhões de reais repassados nessa modalidade no ano passado, mais da metade do total repassado em 2022.
Na semana passada, Dino havia determinado que o envio desses aditivos seguisse regras de transparência e rastreabilidade, além de estabelecer critérios para seu pagamento. O magistrado também pediu à Controladoria-Geral da União que penteie os repasses dos últimos anos.
Dino entendeu que a falta de controle sobre a aplicação dos recursos via emendas do Pix ou emendas de comissão (enviadas pelos presidentes das comissões temáticas) repete o problema das emendas de relatores, que ficaram conhecidas como Orçamento Secreto e foram utilizadas pelo governo Jair Bolsonaro (PL) em troca de apoio no Congresso.
As alterações do Pix também são alvo de questionamentos em ação apresentada pela Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo. Porém, há dúvidas sobre a legitimidade da entidade para ajuizar a ação direta, uma vez que seus objetivos institucionais não estão diretamente relacionados ao tema.