O delegado Guilhermo de Paula Machado Catramby, da Polícia Federal (PF), presta depoimento no segundo dia de audiências de instrução na ação penal que tramita no Supremo Tribunal Federal (STF) referente ao assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, um crime ocorreu em março de 2018.
Catramby foi arrolado pelo Ministério Público Federal como testemunha de acusação e está sendo ouvido pelo desembargador Airton Vieira, desembargador do gabinete do ministro Alexandre de Moraes, relator do caso no Supremo.
Os depoimentos acontecem por videoconferência e podem ser acompanhados pelos réus – o deputado federal Chiquinho Brazão (Sem partido-RJ), seu irmão, Domingos Brazão, conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro, o ex-chefe do Polícia Civil do Rio de Janeiro Rivaldo Barbosa e Major da Polícia Militar Ronald Paulo de Alves Pereira. Todos estão presos e acompanham as audiências de suas respectivas penitenciárias.
Robson Calixto Fonseca, conhecido como Peixe e suspeito de ter fornecido a arma do crime, também é réu.
Nas primeiras duas horas de depoimento, Catramby foi questionado pela Procuradoria-Geral da República e fez um panorama dos interesses fundiários dos irmãos Brazão na zona oeste do Rio de Janeiro, bem como sua relação com milícias em locais como Rio das Pedras , Taquara e Oswaldo Cruz.
O delegado reiterou a tese que já havia apresentado em seu relatório final das investigações, segundo a qual as ações de Marielle contra um projeto de lei de regularização fundiária na zona oeste eram contrárias aos interesses políticos e econômicos do Brazão na região, razão pela qual eles decidiu matá-la.
“Marielle foi veementemente atuante em relação ao direito à moradia e ao direito à terra no Rio de Janeiro”, afirmou Catramby. Segundo depoimento de Lessa, executor confesso do homicídio, em primeiro encontro com os irmãos Brazão, Domingos disse “que Marielle estaria perturbando os interesses dos loteamentos irregulares”.
Segundo as investigações da PF, os irmãos Brazão ofereceram a Lessa participação nos empreendimentos imobiliários irregulares que os dois pretendiam executar após a aprovação do referido projeto de lei.
Catramby contou ainda como, desde que assumiu as investigações e recebeu o trabalho que vinha sendo realizado pela Polícia Civil do Rio de Janeiro, percebeu lacunas que pareciam inexplicáveis. Por exemplo, o fato de as imagens das câmeras de segurança terem sido tiradas apenas a 450 metros da rota de fuga.
Posteriormente, foi descoberto que o Chevrolet Cobalt usado no crime percorreria mais de 40 km durante a fuga. “Agora sabemos que esse caminho levaria até a casa do Ronnie Lessa. O processo criminal da época seria levado aos algozes muito rapidamente”, observou Catramby.
Ele também descreveu quais teriam sido as tentativas de Giniton Lages, primeiro delegado do caso Marielle, de obrigar outro miliciano, Orlando Curicica, já preso, a assumir a responsabilidade pelo assassinato. Curicica ainda deve ser ouvido nas audiências do Supremo.
As audiências do caso Marielle no Supremo seguem até a próxima sexta-feira (16).