O Senado aprovou, nesta quinta-feira, 15, a chamada PEC da Anistia. A Proposta de Emenda à Constituição pretende perdoar dívidas fiscais dos partidos políticos, abrangendo um período de cinco anos. A medida também busca facilitar o financiamento de multas.
A aprovação ocorreu em dois turnos. Na primeira, a PEC obteve 51 votos a favor e 15 contra. Na segunda, a margem foi mais ampla, com 54 votos a favor e 16 contra. Como já foi aprovado na Câmara em julho, o resultado de hoje é definitivo.
A proposta contou com o apoio de quase todas as siglas – com exceção de NOVO -, incluindo PT e PL. No caso do partido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA), liberou a bancada por considerar o assunto partidário.
Agora, o texto constitucional determinará que a imunidade tributária aos partidos será válida para todas as sanções tributárias, inclusive nos processos de responsabilização. A exceção se deve às sanções previdenciárias.
Para as siglas, o perdão das dívidas é justificável, uma vez que os valores relativos às dívidas podem ser deduzidos de futuros repasses feitos ao Fundo Partidário. O perdão será feito por meio de Programa específico de Recuperação Fiscal (Refis), que deverá quitar os débitos em até 15 anos.
Para as eleições municipais de 2024, serão destinados 4,9 bilhões de reais para financiamento de campanha. PL (18%), PT (13%) e União Brasil (11%) são os maiores beneficiários. O texto aprovado também flexibiliza a prestação de contas, dispensando os partidos de apresentarem recibos de doações feitas por meio do Pix.
Embora o relatório do senador Marcelo Castro (MDB-PI) não tenha especificado o impacto financeiro da medida, a ONG Transparência Partidária estima que a medida pode custar até 23 bilhões de reais.
A PEC também vai alterar a distribuição de verbas eleitorais para candidatos negros. Na prática, anula decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), proferida em 2020, que determinava que os partidos distribuíssem verbas de campanha proporcionalmente ao número de candidatos brancos e negros (negros e bardos).
Para este ano, o texto aprovado determina um repasse mínimo de 30% dos recursos eleitorais e de campanha para candidatos negros. O percentual contraria resolução do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que recomendava que a distribuição de valores – e tempo gratuito de publicidade eleitoral – não deveria ter percentual mínimo.
Exemplo: segundo o TSE, se o partido tivesse 50% de candidatos negros, deveria repassar o mesmo percentual aos candidatos.
Organizações criticaram a mudança
O Instituto Marielle Franco, por exemplo, comentou que a PEC “enfraquece a Justiça Eleitoral, reduz a integridade dos partidos e representa um endosso para que os partidos continuem desconsiderando o racismo e a extrema desigualdade de gênero na representação de mulheres e negros na política”. O Movimento Mulheres Negras Decidem classificou a proposta como um “retrocesso”.
O relator da PEC no Senado, Marcelo Castro (MDB-PI), disse que o texto não traz “nenhuma anistia”. Sobre a aplicação do valor proporcional para candidatos pretos e pardos, o parlamentar comentou que “os partidos serão obrigados a gastar o que não gastaram nas próximas quatro eleições”.