Os presidentes da Câmara, do Senado e de dez partidos pediram ao Supremo Tribunal Federal a derrubada da liminar do ministro Flávio Dino que suspendia a execução de todas as emendas obrigatórias apresentadas pelos parlamentares até que sejam aprovadas novas regras de transparência na aplicação dos recursos.
A ação questiona a legalidade das ordens do magistrado, que, segundo documento enviado à Corte nesta quinta-feira, 15, “causam danos irreparáveis à economia pública, à saúde, à segurança e ao próprio ordenamento jurídico” e violam a separação de Poderes. PCdoB e PSOL não subscreveram o pedido no momento da redação deste relatório.
“As decisões monocráticas, proferidas fora de qualquer contexto de urgência que justificasse uma análise isolada e não colegiada, transcenderam em muito o debate em torno da suposta falta de transparência das chamadas emendas do Pix, e também atingiram proporções exorbitantes com a tão -chamadas alterações da comissão. ”, alega o recurso.
Emendas obrigatórias são aquelas que o governo federal é obrigado a custear. Para este ano, a previsão é que o Executivo tenha que enviar redutos eleitorais dos parlamentares pelo menos 33 bilhões de reais nesta forma de pagamento.
O pedido de suspensão da execução das emendas partiu do PSOL, sob o argumento de que o atual quadro de gestão do Orçamento da União gera uma “profunda desordem” e viola a separação entre os Poderes. Dino acatou o pedido, mas manteve o repasse para obras em andamento e ações de calamidade pública.
Para o juiz, a execução de emendas sem critérios de eficiência, transparência e rastreabilidade é incompatível com a Constituição. O procedimento estabelecido com as alterações, explicou, retira grande parte da liberdade de decisão do Executivo sobre políticas públicas e transforma os parlamentares em “coordenadores de despesas”.
“É uma anomalia grave termos um sistema presidencialista, decorrente do voto popular, coexistindo com a figura do parlamentares que ordenam despesas discricionárias como se as autoridades administrativas fossem“, escreveu. O ministro destacou ainda que o “desenho prático equivocado” das alterações tributárias gerou a “parlamentarização dos gastos públicos”.
A decisão de Dino aumentou a ofensiva contra o poder do Legislativo sobre trechos do Orçamento pela falta de transparência e controle na aplicação dos recursos públicos. Mas, por outro lado, abriu caminho para o mal-estar dos parlamentares, que já estavam irritados com outras ordens do magistrado.
Na semana passada, por exemplo, o ministro havia suspendido o pagamento das emendas do Pix, modalidade aprovada pelo Congresso em 2019 em que o dinheiro público é enviado pelos parlamentares aos seus redutos eleitorais sem precisar passar pelos ministérios.
A Dino abriu exceção apenas para transferências que atendam aos requisitos de transparência e rastreabilidade de valor. Há permissão também no caso de repasses para obras em andamento e resposta a situações de calamidade pública, desde que haja sistema de transparência.
Antes, proibia o Executivo de executar emendas de comissões (indicadas pelos presidentes dos órgãos temáticos do Congresso) que não seguissem regras de transparência e rastreabilidade, além de estabelecer critérios para seu pagamento. O ministro do STF também pediu à Controladoria-Geral da União que passe um pente fino nos repasses realizados nos últimos anos.
O entendimento de Dino é que a falta de controle na aplicação desses recursos repete o problema das emendas do relator, que ficaram conhecidas como Orçamento Secreto e foram utilizadas pelo governo Jair Bolsonaro (PL) para pavimentar sua relação com o Congresso.
A reação à ordem do ministro veio rapidamente. Na Câmara, os deputados decidiram adiar a votação dos destaques do regulamento da reforma tributária, agenda prioritária do governo Lula (PT).
O cancelamento foi interpretado como uma espécie de recado ao Palácio do Planalto – entre os parlamentares, há a suspeita de que as ordens de Dino tenham a impressão digital do governo, do qual foi ministro até o início deste ano.
Logo em seguida, a Comissão Mista de Orçamento do Congresso rejeitou uma medida provisória que previa aumento do orçamento do Judiciário. A derrubada da MP, porém, ainda precisa ser votada em sessão da Câmara.