O deputado Jack Rocha (PT-ES) apresentou, nesta quarta-feira, 28, parecer favorável à cassação do mandato de Chiquinho Brazão (sem partido) no Conselho de Ética da Câmara dos Deputados. Brazão é acusado de ser um dos mandantes do assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL) e do motorista Anderson Gomes, ocorrido em 2018.
O pedido de impeachment foi protocolado pelo PSOL, que argumenta que a manutenção do mandato de Brazão “fere o prestígio da Câmara” e que seu afastamento é necessário para evitar que ele “use seu cargo para obstruir a justiça”.
No parecer, Jack Rocha destacou que as investigações conduzidas pela Polícia Federal e as provas colhidas pelo Conselho de Ética indicam que Brazão praticou “condutas incompatíveis com o mandato parlamentar”. Ela afirmou que tanto ele quanto seu irmão, Domingos Brazão, conselheiro do Tribunal de Contas do Rio de Janeiro, usaram influência política para nomear associados em cargos estratégicos, facilitando operações ilícitas.
O deputado também mencionou a ligação dos irmãos Brazão com Robson Calixto Fonseca, conhecido como “Peixe”, que atuou como intermediário entre eles e os milicianos, fortalecendo o vínculo da família com atividades criminosas. O nome de Chiquinho Brazão foi citado durante a CPI das Milícias, presidida por Marcelo Freixo (PSOL), reforçando suas ligações com esses grupos.
“As provas colhidas tanto por esta turma como no decorrer do processo penal são capazes de demonstrar que a pessoa representada [Brazão] leva um modo de vida inclinado à prática de condutas que não condizem com o que se espera de um representante do povo”o relatório afirma.
Rocha concluiu seu parecer recomendando a perda do mandato de Chiquinho Brazão, com base no inciso VI do artigo 4º do Código de Ética e Decoro Parlamentar, que prevê o impeachment em casos de conduta incompatível com o cargo. Leia a votação completa:
Processando-REP-4-2024-1-5-26
O parecer do deputado ainda precisará ser votado pelos demais membros do Conselho de Ética, que poderão aceitar ou rejeitar as conclusões apresentadas. Caso o Conselho decida pelo impeachment, a decisão ainda precisará ser ratificada pelo plenário da Câmara, onde é necessário o voto favorável de pelo menos 257 dos 513 deputados para que o mandato de Brazão seja cassado.
Durante a sessão, Chiquinho Brazão negou mais uma vez qualquer envolvimento nas mortes de Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes. Ele alegou ser “inocente” e que Marielle foi sua “amiga” durante o período em que ambos serviram na Câmara Municipal do Rio de Janeiro. “Eu sou inocente, totalmente inocente neste caso. A vereadora Marielle era minha amiga, ela não teria motivo [para tê-la mandado matar]porque sempre fomos parceiros. Votamos juntos”, declarou Brazão.
Ele alegou ainda que é acusado de participar de milícias para “levar obras às comunidades”, o que, segundo ele, seria função de um representante do Legislativo.
Lembre-se das acusações
Chiquinho Brazão é réu em processo criminal pela morte de Marielle Franco ao lado do irmão, Domingos Brazão, e será julgado no Supremo Tribunal Federal (STF). Ambos estão detidos desde 24 de março, por ordem do ministro Alexandre de Moraes. A prisão ocorreu após depoimento do ex-policial militar Ronnie Lessa, que confessou a autoria do crime.
Segundo denúncia do Ministério Público, o assassinato de Marielle Franco tem relação com a expansão de milícias na Zona Oeste do Rio de Janeiro e novos loteamentos na região. A Procuradoria-Geral da República (PGR) sustenta que os irmãos Brazão, com fortes ligações a milicianos, ordenaram a morte de Marielle devido ao seu papel como principal opositor dos interesses económicos destes grupos.
O deputado foi expulso do União Brasil no mesmo dia em que foi detido e, posteriormente, viu a Câmara manter sua prisão. No cenário atual, ele se vê isolado na Câmara, sem receber significativa defesa pública dos colegas. Nos bastidores, líderes da Câmara consideram pouco provável que o impeachment do deputado seja revertido no plenário.