A discussão sobre a polarização entre forças de centro-esquerda e extrema-direita, denominada pólo lulista e Bolsonarista, está de volta nestas eleições municipais. Contudo, há, no mínimo, muita especulação eleitoral e pouca leitura atenta dos dados que são produzidos.
Apresento alguns resultados de pesquisas eleitorais quantitativas e qualitativas realizadas em duas cidades do Estado de Goiás: Anápolis, uma das cidades mais conservadoras do Estado, e Goiânia, uma das mais progressistas. O objetivo é mostrar que as discussões sobre a capacidade ou os limites de cada um desses polos para a transferência de votos não são respaldadas pelos resultados mais amplos dessas pesquisas.
Em Anápolis, pesquisa mostra que quase 50% de seus eleitores podem votar ou votariam com certeza em um candidato indicado pelo ex-presidente Bolsonaro. E, por outro lado, mais de 70% jamais votariam em um candidato indicado pelo presidente Lula.
Como explicar, diante dessas constatações, que, em Anápolis, o candidato lulista sempre tem percentuais acima de 40% (Antônio Gomide) e o candidato Bolsonaro (Márcio Correia) não ultrapassa 30% das intenções de voto?
Em Goiânia, pesquisa mostra que apenas 15% dos eleitores votariam em um candidato apoiado por Lula mesmo sem conhecê-lo, enquanto 29% votariam em um candidato apoiado por Bolsonaro mesmo sem conhecê-lo.
Como explicar, diante dessas constatações, que, em Goiânia, o candidato de Bolsonaro tenha percentuais abaixo de 10% (Fred Rodrigues) e a candidata do lado do PT (Adriana Accorsi) tenha acima de 20% de intenções de voto?
Gomide e Adriana não são vistos como candidatos lulistas? Fred Rodrigues e Marcio Correia não teriam se esforçado para se apresentarem como bolsonaristas? Nada disso. Esses dados comparados mostram que não existe um poder natural de atração e repulsa para cada personalidade que necessariamente se transforme em votos ou rejeição para os apoiados.
O que podemos dizer destes números, ora superiores, ora inferiores, ao que se poderia esperar dos seus principais líderes eleitorais? No mínimo, as leituras precipitadas da opinião pública não conseguem estabelecer os limites superior e inferior da capacidade de transferência de votos destes pólos, dependendo da fé no referido poder atrativo ou repulsivo.
Diferentes maneiras de encontrar uma medida
Apresento aqui uma hipótese proveniente de pesquisa qualitativa que venho acompanhando ao longo deste ano em diferentes cidades brasileiras: indicadores de aceitação/rejeição ou aprovação/reprovação muitas vezes acabam carregando um problema que não está na agenda do eleitor nas eleições municipais. . É fato que quem mais adere ao apelo do seu líder certamente tem um fator decisivo no aspecto simbólico para o seu voto. Então pode-se dizer que esse eleitor sempre se posiciona a priori seguindo um alerta de seu líder. É por isso que os fantasmas, o que não pode acontecer e os medos (garrafas, banheiros neutros, criacionismo, anticiência, etc.) são os principais dispositivos que os movem. Para esse tipo de eleitor, a realidade (a localização, as condições pessoais, os problemas comuns, o bairro, a cidade) é, na melhor das hipóteses, um fator secundário no cálculo do processo de escolha. Dados comprimidos e separados do seu contexto para ratificar o perigo revelado pelo líder.
Para o eleitorado não posicionado, o simbólico não funciona sozinho. Este eleitor elabora os fatores de decisão de voto de uma forma muito diferente. Para ele, o simbólico, para funcionar, tem que estar submetido ao real e não o contrário. O suporte conta. Mas esses eleitores os colocam em outro lugar. Os apoios são considerados uma pista sobre a capacidade de cada candidato cumprir o que promete.
Para o primeiro tipo de eleitor, o apoio é importante para garantir que um medo (um valor, um pecado, uma imoralidade) não se concretize. Para o segundo tipo, importa apoiar para saber se existem condições reais para que algo se concretize: um serviço, um trabalho, uma oportunidade de emprego.
Em última análise, para uma ampla faixa do eleitorado, estar isolado (sozinho/sem lado/terceira via/voo individual) pode ser um problema maior do que ter um apoio que não esteja próximo do seu universo de valores morais e/ou religiosos. O fio da navalha está cada vez mais estreito, porque o que importa é não ter o apoio forte do governador ou do presidente. Para esse eleitor, importa como o candidato demonstra que usará esse canal aberto com o governador ou com o presidente para cumprir o que promete. E não o contrário.
Para este fim, a habilidade política parece ser desejada. Que o candidato ideal tenha força e/ou capacidade para não cair nas armadilhas do mundo da política. Idealizam um candidato capaz de liderar a política e não cair nas armadilhas que ele possa conter: solicitações de vereadores, empresários ou secretários. Este é o gestor ideal que tanto se pede nestas eleições autárquicas.
Medir a presença de apoio é verdadeiramente um desafio para o marketing político. A palavra de intenção de voto poderá ser dada pelos eleitores posicionados a priorimas o limite máximo deve ser construído através de estratégias políticas e de comunicação. E isso muitas vezes tem de ser feito “apesar” do apoio e dos próprios candidatos.