Os embates entre os candidatos a prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB) e Pablo Marçal (PRTB), revelam uma disputa pelo poder que vai além da gestão da maior cidade do país. Por trás do pano de fundo está a busca para saber quem acolhe melhor o eleitor bolsonarista.
Apesar de Nunes ser o candidato oficialmente apoiado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), Marçal, com discurso histriônico, continua fazendo o que pode para atrair apoiadores do bolsonarismo para sua campanha. Contraditório, ele chegou a fazer apelos públicos a Bolsonaro ao mesmo tempo e depois trocou farpas com o ex-presidente.
Contudo, pelo menos do ponto de vista do eleitorado, a confusão causada pela ex-técnico começou a ser desfeito. Agora, Quem vem ganhando a disputa pela parcela de Bolsonaro é Nunes, segundo a pesquisa mais recente do Datafolha, divulgada nesta sexta-feira, 27. A pesquisa indica que aumentou o percentual de eleitores paulistas que associam Bolsonaro ao atual prefeito da capital paulista, em detrimento de Marçal.
O instituto perguntou aos entrevistados quem Bolsonaro apoia nas eleições paulistas e 49% responderam (corretamente) que é dado apoio a Nunes. Há duas semanas, o percentual era de 44%. Em maio, quando a campanha oficial ainda não havia começado, a taxa não ultrapassava os 26%.
Marçal, por sua vez, sentiu o efeito contrário. No início do mês, 19% do eleitorado associava erroneamente Bolsonaro a ex-treinador. A confusão agora chega a apenas 14%.
O Datafolha também mostrou que 29% não sabem quem apoia Bolsonaro nas eleições paulistas. Outros 2% disseram apoiar José Luiz Datena (PSDB), mesmo nível daqueles que apontaram que o ex-presidente apoia Guilherme Boulos (PSOL). Tabata Amaral (PSB) foi apontada como favorita de Bolsonaro por 1% do público entrevistado.
A participação de Bolsonaro na campanha
Não que o crescimento da associação entre Nunes e Bolsonaro seja resultado de um movimento construído apenas pelo candidato paulista. O ex-presidente até é uma figura presente na campanha, mas tem alternado, nas últimas semanas, entre o distanciamento e uma postura mais proativa.
Em agosto, por exemplo, Bolsonaro chegou a dizer que Nunes, apesar de ser seu candidato, não era a candidatura dos seus “sonhos”. Em entrevista, o ex-presidente chegou a elogiar Marçal, dizendo que ele falava “muito bem”, era “uma pessoa inteligente” e que tinha “as suas virtudes”.
O contexto, claro, era diferente. Há pouco mais de um mês, Marçal subia vigorosamente nas pesquisas de intenção de voto. Segundo o mesmo Datafolha, o ex-técnico atingiu 29% das intenções de voto entre os eleitores de Bolsonaro em 2022, enquanto Nunes, mesmo com 38%, viu sua preferência cair entre esse eleitorado.
A partir de então, o rumo da campanha de Marçal começou a se acalmar em função das atitudes do próprio candidato. Provocações excessivas e acusações das mais diversas características contra os demais candidatos fizeram disparar a rejeição de Marçal. Atualmente é o candidato com maior índice de rejeição em SP.
Bolsonaro viu o movimento e se adaptou ao contexto. Além disso, ele vê um possível colapso da campanha de Marçal como uma reafirmação da sua própria liderança no campo da extrema-direita.
Na semana passada, por exemplo, o ex-capitão criticou Marçal e indicou que “entendeu” a atitude de Datena de atacar o influenciador com uma cadeira, durante o debate realizado pelo TV Cultura.
Antes, no dia 7 de setembro, Bolsonaro já havia se desentendido com Marçal, dizendo que o candidato tentou “fazer palanque às custas dos outros“, durante evento realizado na Avenida Paulista.