Dois fatores principais ajudam a explicar por que X (ex-Twitter) mudou de postura após ser suspenso no país, segundo John BrantSecretário de Políticas Digitais da Presidência da República: a reação internacional e a pressão da extrema direita brasileira.
A rede social de Elon Musk está fora do ar para os brasileiros desde o final de agosto, após se recusar a cumprir ordens de suspensão de perfis, ignorar multas e deixar de prestar representação legal em território nacional.
Logo após a decisão de Alexandre de Moraes – referendada pela Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal – o bilionário disparou toda a sua artilharia virtual contra o ministro e ainda endossou a convocação do ato bolsonarista no 7 de Setembro. A manifestação, porém, ficou aquém do que os organizadores esperavam.
No dia 18 de setembro, uma atualização nos servidores do X permitiu que usuários brasileiros acessassem a rede, contrariando a determinação do STF. Moraes fixou então multa diária de 5 milhões de reais.
Na noite desta sexta-feira, 27, ele negou o desbloqueio imediato da plataforma e exigiu o pagamento de multa de 10 milhões de reais pelo descumprimento da ordem de bloqueio por dois dias.
Desde agosto, o STF está firme na convicção de que X só poderia solicitar seu retorno ao Brasil se cumprisse integralmente as exigências anteriormente negligenciadas. Na última quinta-feira, 26, a empresa entrou com pedido na Justiça para retomada das atividades no país e disse ter acatado as determinações.
A plataforma apresentou os originais das procurações que formalizam a advogada Rachel de Oliveira Villa Nova Conceição como representante legal; a lista com o pagamento de 18 milhões de reais em multas por descumprimento de ordens judiciais; e o bloqueio de nove contas de investigados ou acusados de cometer crimes na rede social.
Por que a postura da rede social mudou em menos de um mês?
“Acho que X retorna por dois motivos, a meu ver: porque entendeu que havia apoio internacional para a ação do Judiciário brasileiro e porque há pressão da extrema direita”, disse João Brant ao CartaCapital nesta sexta-feira, dia 27.
Segundo o secretário, a pressão da extrema direita vem do fato de muitos de seus membros terem contas enormes na rede, com milhões de seguidores. Migrar para plataformas como Bluesky e Threads não é uma tarefa trivial para esses usuários.
“Não faz sentido o direito de ficar sem Twitter. E para o próprio Musk, que segue fazendo esse teatro, perder esse palco não faz muito sentido se ele quer influenciar a realidade brasileira”, avalia.
Após a retomada das operações no Brasil, afirma o secretário de governo Lula, a tendência é que a plataforma cumpra ordens judiciais, mas a postura de Musk contra Moraes e o STF dificilmente mudará. Se o magnata suavizar o discurso, será acusado pelos extremistas de capitular ao “sistema”.
“Ele sabe que aqui tem liberdade de expressão, inclusive para falar as coisas absurdas que fala.”
Episódios como a suspensão do X no Brasil e a prisão do CEO do Telegram, Pavel Durov, na França, mostram que os estados democráticos não tolerarão que plataformas digitais quebrem as regras, acrescenta Brant. “É um marco relevante.”