O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva alcançou resultados econômicos positivos, mas enfrenta a tarefa de transformar esses indicadores em uma base sólida de apoio popular e superar a ameaça da recuperação do bolsonarismo e da extrema direita nas próximas eleições.
Em 2023, o Brasil teve o maior aumento do PIB no início do semestre na série histórica do país: ccaiu 2,9%, superando as expectativas do mercado, que previa um aumento de apenas 0,9%. O governo também aprovou reformas estruturais, como a mudança no sistema tributário e no quadro fiscal.
Uma pesquisa sobre Folha de S.Paulo, que analisou 35 indicadores relacionados à evolução econômica do país, mostrou que no primeiro ano do terceiro mandato do petista, 24 melhoraram. A evolução é muito maior do que a observada em 2019, primeiro ano do governo de Jair Bolsonaro, quando a maioria dos indicadores analisados na época, 56% tiveram resultado negativo.
Números mais recentes reforçam esta trajetória positiva. Apenas nos primeiros cinco meses de 2024, foram criados 1 milhão de novos empregos, com um recorde histórico de 101,3 milhões de pessoas empregadas. O desemprego caiu para 6,8%, o nível mais baixo em dez anos. O PIB cresceu 0,8% no primeiro trimestre de 2024, levando o Banco Central a revisar sua projeção de crescimento de 1,9% para 2,3% em 2024, próximo da previsão do governo de 2,5%.
Apesar dos indicadores positivos, a percepção da população relativamente ao acesso aos bens e ao aumento dos rendimentos ainda é cautelosa. Projetos como a taxação de compras internacionais, conhecida como “imposto da blusa”, geram desconforto, aproveitados por ativistas de Bolsonaro nas redes sociais.
Uma pesquisa recente da Quaest mostrou que a aprovação do governo atingiu 54%, a maior taxa do ano na pesquisa, com crescimento significativo entre as camadas mais pobres da população. Outra pesquisa recente, do Ipec, também captou um aumento na avaliação positiva do governo, de 32% para 37%.
No geral, na Quaest, 60% dos entrevistados entendem que a economia se manteve estável ou melhorou nos últimos 12 meses. O grande desafio é manter este desempenho – e 21% dos entrevistados ainda apontam a economia como a sua maior preocupação.
Para o cientista político Josué Medeiros, é esta falta de segurança que mantém a popularidade de Lula abaixo do que deveria ser, tendo em conta os bons indicadores económicos atuais. “Estamos numa sociedade que está muito traumatizada, desde 2015, por sucessivas crises económicas e políticas”, afirma Medeiros, professor da UFRJ e colunista do CartaCapital. “As pessoas até sentem a melhoria económica, mas demoram a acreditar que a situação vai durar.”
O presidente, avalia, deveria investir mais em políticas enfáticas que promovam um maior sentimento de acolhimento, indo além do Bolsa Família e do aumento real do salário mínimo. O cientista destaca projetos ainda em andamento, como a política que visa eliminar filas no Sistema Único de Saúde e o “pé-de-meia” para estudantes do ensino médio, proposta pelo ministro da Educação, Camilo Santana.
Os indicadores e o ritmo nestes 18 meses, considera o economista André Roncagliaainda não são suficientes para conter a popularização dos discursos de oposição, mais centrados na redução da dívida pública e nas privatizações – e que, a nível individual, exploram um sentimento difuso de perda de poder de compra, especialmente entre as camadas mais ricas.
“Em média, o rendimento real da população tem aumentado de forma robusta, mas as pessoas tendem a destacar apenas o nível de preços daquilo que compram; ou seja, eles se sentem incomodados em pagar 10 reais por algo que antes compravam por 8 reais, mesmo que sua renda tenha crescido mais de 2 reais”, explica (leia mais na coluna do economista em CartaCapital).
“A tragédia no Rio Grande do Sul e a pausa na queda da Selic obscureceram o cenário de melhora para a economia neste ano. Diante da desaceleração, o mercado financeiro eleva o tom das críticas ao governo federal, exigindo mais aperto fiscal. E o governo, ao adotar uma postura defensiva, alimenta o monstro.”
Roncaglia destaca a necessidade de criar políticas de distribuição de renda e de assistência à população de baixa renda e mais vulnerável, aumentando a parcela do PIB que lhes é atribuída. A inclusão dos mais pobres, argumenta ele, fortalecerá o sistema, eliminando a percepção de uma melhoria volátil. “As exportações em boa forma e o aumento dos rendimentos vão ajudar muito, mas não serão suficientes.”
Com a estagnação da indústria, é necessário estimular o investimento público para incentivar o setor privado a aumentar a sua exposição ao risco. “É necessário destravar diversas frentes de crescimento, especialmente o investimento público, os desembolsos do BNDES e a queda da SELIC, para que os esforços do novo PAC, da Nova Indústria Brasil e do Plano de Transição Ecológica ganhem força e comecem a se espalhar pelo resto do mundo. a economia”, acrescenta.