A operação deflagrada nesta quinta-feira, 11, pela Polícia Federal na investigação do suposto esquema ilegal de monitoramento por meio da Agência Brasileira de Inteligência, a Abin, tem potencial para agravar a situação de Jair Bolsonaro (PL) e de militares de alta patente.
A PF pediu ao ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes, que compartilhasse provas produzidas em outras três investigações que se tornaram dor de cabeça para Bolsonaro: investigações sobre notícias falsas, atos antidemocráticos e milícias digitais. Moraes aceitou o pedido.
Os investigadores apontam uma ligação entre os procedimentos. Segundo a PF, as ações clandestinas da Abin Paralela são potencialmente “no nexo causal dos crimes que culminaram na tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito”.
Um parecer da Procuradoria-Geral da República endossa esta tese, argumentando que a estrutura infiltrada no órgão seria “apenas uma célula de uma organização criminosa mais ampla, destinada a atacar opositores, instituições e sistemas republicanos”.
A PGR diz especificamente que a atuação desta organização não se restringiu a episódios relacionados à Abin, “mas que poderia se refletir em outros procedimentos investigativos”.
Moraes, por sua vez, concordou com essa avaliação e ressaltou, com base no trabalho da PF, que uma organização criminosa utilizou o sistema de inteligência da Abin para espionar autoridades que poderiam, em tese, se opor aos interesses do Núcleo Político do esquema, além de monitorar pessoas que lideram investigações contra familiares de Bolsonaro.
Assim, segundo o ministro, dada a “extensão do questionamento da credibilidade do sistema eleitoral, há uma existência de nexo probatório entre a presente investigação e os procedimentos investigativos que tramitam neste Tribunal“.
A nova operação sobre possível arapongagem também é uma má notícia – simbólica e legalmente – para militares graduados. A decisão de Moraes proíbe o contato entre os alvos da ação desta quinta e os investigados na petição relacionada à conspiração golpista de 2022. Entre eles estão:
- JairBolsonaro;
- ex-comandante da Marinha Almir Garnier Santos;
- ex-comandante do exército Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira;
- o general e ex-ministro Augusto Heleno, a quem a Abin estava subordinada; Isso é
- o general e ex-ministro Valter Braga Netto.
A investigação sobre a trama golpista de 2022 está prestes a terminar, como mostra CartaCapital. Neste caso, a PF pode impor a Bolsonaro os crimes de golpe de Estado, abolição violenta do Estado Democrático de Direito e organização criminosa.
Além disso, o relatório em que a PF indiciou o ex-presidente por três crimes no caso das joias sauditas menciona cinco vezes uma “tentativa de golpe de Estado”.
Nota-se, portanto, que a PF avalia que há ligação concreta entre diversos casos protagonizados por Bolsonaro e membros das Forças Armadas. A PGR, instituição responsável pela denúncia, pode ou não seguir essa linha.
Em última análise, caberá ao Supremo Tribunal Federal, sob forte influência de Moraes, julgar esse emaranhado de processos. Se prevalecer o entendimento de que os casos têm profunda ligação entre si, o cerco a Bolsonaro tende a se fechar em diversas direções.