O governo Lula (PT) anunciou nesta quarta-feira, 24, durante reunião do G20 no Rio de Janeiro, o Aliança Global contra a Fome e a Pobreza.
A proposta não se destina apenas aos países membros do grupo, mas a todas as partes interessadas. A aliança será lançada oficialmente na reunião do G20 em novembro, também no Rio.
O anúncio surge no dia em que a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura divulgou o relatório O Estado da Segurança Alimentar e Nutricional no Mundo.
Os dados mostram que, numa perspectiva internacional, a fome permaneceu aproximadamente no mesmo nível nos últimos três anos, após um pico da pandemia. Entre 713 milhões e 757 milhões das pessoas poderão ter passado fome até 2023, o que equivale a uma em cada 11 pessoas no mundo.
No Brasil, o Ppopulação em situação de insegurança alimentar diminuiu 32,8%no período entre 2020 e 2022, para 18,4%, entre 2021 e 2023.
De 2020 a 2022, 70,3 milhões de brasileiros viviam insegurança alimentar moderada ou grave; entre 2021 e 2023, 39,7 milhões permaneceram nesta condição.
Considerando apenas a insegurança alimentar grave – quando as pessoas passam realmente fome – os dados mostram que, de 2020 a 2022, esta situação atingiu 9,9% dos brasileiros (21,1 milhões); de 2021 a 2023, foram 6,6% (14,3 milhões).
Durante sua participação na reunião do G20, Lula destacou que a agenda é um dos momentos mais relevantes dos 18 meses do seu terceiro mandato.
“Ao longo dos séculos, a fome e a pobreza estiveram rodeadas de preconceitos e interesses. Muitos viam os pobres como um ‘mal necessário’ e mão de obra barata para produzir a riqueza das oligarquias”, disse o presidente.
“Nas últimas décadas, a globalização neoliberal agravou esta situação. Nunca tantos tiveram tão pouco e tão poucos concentraram tanta riqueza. No século XXI, nada é tão absurdo e inaceitável como a persistência da fome e da pobreza, quando temos tanta abundância à nossa disposição, tantos recursos científicos e tecnológicos e a revolução da inteligência artificial. Nenhum tema é mais atual ou mais desafiador para a humanidade.”
O petista enfatizou a desigualdade de gênero e mencionou agravantes como a discriminação étnica, racial e geográfica, que amplifica a fome e a pobreza entre comunidades afrodescendentes, indígenas e tradicionais.
“Mas a fome não é apenas resultado de fatores externos. Ela decorre, sobretudo, de escolhas políticas”, continuou. “Enquanto isso, os gastos com armamentos aumentaram 7% no ano passado, atingindo 2,4 trilhões de dólares. Inverter esta lógica é um imperativo moral, de justiça social, mas também essencial para o desenvolvimento sustentável.”
Ainda segundo Lula, a Aliança Global contra a Fome e a Pobreza será um dos principais resultados da presidência brasileira do G20. “Vamos sistematizar e oferecer um conjunto de projetos que possam ser adaptados às realidades específicas de cada região. Qualquer adaptação e implementação deve ser liderada pelos países receptores, porque cada um conhece os seus problemas. Eles devem ser os protagonistas do seu sucesso.”
O Brasil arcará com metade dos custos administrativos da Aliança Global, cerca de 9 milhões a 10 milhões de dólares, até 2030. O restante dos recursos virá de países como a Noruega e de outros governos dispostos a colaborar.
O Banco Mundial manifestou apoio à iniciativa, na sequência de uma declaração do seu presidente, o indiano Ajay Banga. Ele elogiou os conceitos da Aliança Global e os resultados do programa Bolsa Família.