A deputada federal Erika Hilton (PSOL) entrou com uma representação no Ministério Público contra o prefeito Ricardo Nunes (MDB) por suposta prática de crime ambiental. A ativista Amanda Paschoal também assina o pedido contra o emedebista.
O objeto da denúncia é um sítio, de propriedade de Nunes, que estaria em situação irregular por estar localizado em uma área de proteção ambiental (APA), próximo à Serra do Mar, em Engenheiro Marsilac, zona sul da capital de São Paulo.
Segundo a denúncia, o prefeito tem em seu nome 4 lotes do ‘Sítio Vista Verde’, que tem um total de 4,2 hectares e outros 9 lotes em nomes de outras pessoas. O local fica na APA Capivari-Monos, criada em 2001 pela gestão de Marta Suplicy (PT).
No texto, o parlamentar e ativista destaca que a APA Capivari-Monos é considerada o berço das águas da capital paulista, com 25 mil hectares, sendo a primeira unidade de conservação do município. “Isso significa 16,4% da área total de São Paulo, nono maior município do estado, com 152 mil hectares”, explica Erika.
O parlamentar e ativista acrescenta ainda que, por ser considerada uma APA, a área possui uma série de restrições ao uso de propriedades privadas, justamente com o objetivo de proteger nascentes e rios, sendo, no caso de Capivari-Monos, hidrográficas. bacias hidrográficas, que contêm 22 sub-bacias e 36 cachoeiras – todas localizadas em propriedades privadas, a maioria delas fazendas.
A ação registrada no MP considera o que já era apontado no Plano de Gestão aprovado em 2011, de que a principal ameaça à manutenção das APAs vem dos loteamentos clandestinos e irregulares, ‘que a prefeitura afirma combater’, diz o parlamentar. O documento lista 15 áreas, incluindo o Parque Internacional, onde Nunes mantém o Vista Verde.
A solicitação também inclui dados fundiários da plataforma GeoSampa, da própria prefeitura de São Paulo, que consolida as bases fundiárias do município. Os dados ‘demonstram que os imóveis de Nunes estão integralmente dentro do polígono referente à área de preservação’.
“A pesquisa por meio da análise de dados fundiários aponta uma série de irregularidades e inconsistências cadastrais. No total, Ricardo Nunes é dono de treze lotes no bairro Engenheiro Marsilac, divididos em cinco propriedades rurais —divididas em dez matrículas”, diz trecho da ação.
Erika Hilton destaca ainda que, dos 13 lotes, apenas quatro tiveram a propriedade transferida para o prefeito e que, em outros nove, Nunes assume a propriedade deles perante o Incra e a Receita Federal, mas os registros permanecem vinculados aos antigos proprietários. Na prática, diz o parlamentar, a manobra de Nunes tem impacto na arrecadação de impostos.
A ação narra, com base em reportagem publicada pela Observatório de Olho nos Ruralistasque a gestão do local é feita pelo filho do prefeito, Ricardinho, que inclusive aluga o local para grupos de até 75 pessoas.
“Em um anúncio publicado na internet, o aluguel do sítio custa R$ 1 mil para um final de semana completo ou R$ 550 para um único dia. Um dos principais atrativos desses aluguéis por temporada é justamente um tanque na área de nascente, onde o visitante pode pescar carpas e tilápias de até 3 kg. O reservatório bloqueia as águas de uma nascente”, acrescenta outro trecho da ação.
O pedido ao MP considera que, como o local possui menos de 15 módulos fiscais, o Código Florestal permite a piscicultura, bem como a instalação de infraestrutura física diretamente relacionada, mas exige uma série de condições, como licenciamento ambiental, adoção de práticas sustentáveis de manejo do solo e da água e inscrição do imóvel no Cadastro Ambiental Rural (CAR). Pelo menos uma dessas condições não foi atendida pelo prefeito. “O observatório fez uma busca nas bases de dados do CAR e constatou que não há registro referente à propriedade, não sendo possível saber sobre licença para piscicultura no local.”
“O prefeito Ricardo Nunes, ao ocupar e desenvolver seu terreno na área de preservação ambiental Capivari Monos, cometeu uma série de infrações legais. Suas ações, incluindo a destruição da vegetação nativa, o represamento de nascentes e a construção de infraestrutura sem a devida autorização, constituem graves crimes ambientais, conforme leis nº. 9.605/98 e n. 12.651/2012”, mantém a ação.
“Além disso, a ocupação irregular de terras e a exploração comercial sem regularização fundiária demonstram desrespeito às regras de uso do bem público. Esses atos não apenas violam legislação específica, mas também comprometem a preservação dos recursos naturais e a sustentabilidade ambiental da região, justificando a aplicação de sanções previstas em lei”, acrescenta outro trecho da representação, que pede a abertura de procedimento investigativo para apurar a possível prática de crimes ambientais pelo atual prefeito de São Paulo.