A incerteza sobre quem representará o bolsonarismo em 2026 representa um desafio à tentativa de planejar a campanha para a reeleição do presidente Lula (PT), indicou em entrevista o CartaCapital o publicitário Sidônio Palmeiraresponsável pelo marketing do PT em 2022. Diante desse cenário, a disputa pela prefeitura de São Paulo poderá servir de teste para as próximas eleições nacionais.
Com a inelegibilidade de Jair Bolsonaro (PL), não faltam palpites sobre quem seria “ungido” pelo ex-capitão: de Tarcísio de Freitas (Republicanos) a Pablo Marçal (PRTB), há uma profusão de nomes. Apesar de fazerem parte da extrema direita, eles têm perfis diferentes e, portanto, exigiriam abordagens diferentes – o primeirotreinadorpor exemplo, não lê integralmente a cartilha de Bolsonaro.
Além disso, o baixo nível da campanha de Marçal à prefeitura de São Paulo, marcada por insultos, provocações e fake news, pegou até mesmo seus adversários de surpresa.
“Para enfrentar um adversário desse tipo, nenhum dos que competiram em São Paulo estava preparado”, afirmou Palmeira. “Guilherme Boulos (PSOL) planejou a campanha para enfrentar Ricardo Nunes (MDB), mas acabou enfrentando dois candidatos. Ele teve que mudar sua estratégia.”
Sidônio Palmeira, que lançou o livro na semana passada Brasil da Esperança: Marketing nas eleições mais importantes da história do paísfoi o primeiro convidado do boletim Direto das Eleiçõesno canal CartaCapital no YouTube, nesta segunda-feira, 2.
O programa vai ao ar às segundas, quartas e sextas, sempre ao vivo. Os internautas poderão participar das transmissões pelo chat do YouTube.
Segundo ele, Lula está preparado para governar e não pensa na disputa de 2026. “Temos que adaptar a estratégia a cada momento e a cada candidato que vamos enfrentar. O presidente é uma pessoa com inteligência diferenciada, com capacidade candidata e sensibilidade como ninguém.”
Essa adaptação, avalia Palmeira, passa por saber enfrentar candidatos – como Marçal – que se aproveitam dos algoritmos das redes sociais para espalhar mentiras e discursos de ódio.
Além disso, para o publicitário, não é possível normalizar a ideia de que as eleições deixaram de envolver o debate de propostas e se tornaram momentos em que é preciso defender a própria manutenção da democracia.
“Algo está errado. Será que estamos aceitando que não teremos um debate democrático, que passe ideias, propostas”, questiona. “Não temos que entregar (a mensagem) de que as eleições estão em outro plano e nunca voltaremos ao plano anterior.”
Para Sidônio Palmeira, enfrentar a extrema direita em 2024 e 2026 não passa pela repetição dos seus métodos, mas pela adoção de estratégias criativas e pela união do campo democrático, de forma a isolar o adversário que representa uma ameaça à democracia.
“São Paulo é uma experiência. Pegue essa experiência, veja o que se pode fazer com ela, sobre como enfrentar quem quer quebrar as regras, inclusive civilizacionais”, acrescentou, em referência a Marçal. “Em 2022 conseguimos vencer, mas a luta continua. Em 2024, temos um exemplo para saber como se preparar, inclusive o Judiciário entendendo o que deve ser feito para limitar esse tipo de coisa.”
Assista ao primeiro boletim completo Direto das Eleiçõescom Sidônio Palmeira: