A ministra da Mulher, Cida Gonçalves, anunciou, nesta sexta-feira, 2, que o governo federal lançará, este mês, a Articulação Nacional pelo Feminicídio Zero. O Agosto Lilás é marcado por atividades de conscientização para acabar com a violência contra a mulher.
A iniciativa visa mobilizar diferentes setores da sociedade para acabar com a violência contra a mulher em diversas frentes, como assinatura de manifesto, realização de eventos e palestras sobre o tema, divulgação de materiais gráficos e audiovisuais da campanha, a ser divulgada na próxima quarta-feira, dia 7.
“Se conseguirmos chegar a 31 de dezembro de 2026, com a maioria da sociedade dizendo que a violência contra a mulher é crime, com as pessoas mais uma vez indignadas com isso, acho que cumprimos um papel estratégico e fundamental [no Ministério das Mulheres]”, disse o ministro, durante café da manhã com jornalistas.
Segundo o 18º Anuário Brasileiro de Segurança Pública do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), o Brasil é o quinto país que mais mata mulheres no mundo. O documento aponta que a cada seis horas uma mulher é vítima de feminicídio no país; três em cada dez mulheres brasileiras foram vítimas de violência doméstica; a cada seis minutos, uma menina ou mulher sofre violência sexual no Brasil e a cada 24 horas são denunciados 75 casos de assédio sexual.
A Articulação Nacional pelo Feminicídio Zero reforçará canais de atendimento telefônico gratuito voltados ao atendimento às mulheres, como a Ligue 180, Central de Atendimento à Mulher; o Disque Direitos Humanos (Disque 100) ou postos de emergência, como o 190, da Polícia Militar, para serem acionados em casos de atendimento rápido.
O movimento prevê o engajamento de entidades empresariais, como o Sebrae, a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), a Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), a Confederação Nacional da Indústria (CNI) ; empresas públicas, bem como figuras públicas, movimentos sociais, instituições desportivas, culturais e religiosas.
Líderes evangélicos
A ministra Cida Gonçalves informou que foi iniciada uma aproximação com pastores evangélicos no combate ao feminicídio. As diretrizes serão elaboradas em setembro em conjunto com lideranças evangélicas.
“A ideia não é polarizar o feminicídio zero como uma questão partidária ou governamental. Essa é a perspectiva que queremos construir e à qual estamos chegando gradativamente. Até o final do ano quero visitar as igrejas, os pastores, os bispos e fazer esse movimento para trazer essas pessoas para esse debate. Precisamos criar um material que fale a língua dessas pessoas”, explicou o ministro. “Também construiremos uma estratégia para trabalhar com as mulheres evangélicas nesta questão e levar as igrejas evangélicas a aderirem ao feminicídio zero”, acrescentou.
Clubes de futebol
O ministro acrescentou que outra ação é envolver os clubes de futebol brasileiros. Pesquisa realizada pelo Fórum de Segurança Pública em parceria com o Instituto Avon, em 2022, revela que em dias de jogos de futebol as lesões corporais intencionais contra mulheres são 23,7% maiores do que em dias sem jogos. E quando o jogo do time acontece na própria cidade-sede, o aumento estimado nos casos de lesões corporais é de 25,9%.
Até o momento, dirigentes dos clubes Corinthians, Flamengo, Vasco e Bahia já aderiram à mobilização. “A questão que vamos colocar não é temporária, é permanente. Existem ações que ocorrerão quando houver um jogo, que são as ações mais midiáticas. Agora, outras coisas acontecerão dentro da equipe, como as oficinas. […] A partir de setembro a equipe designada pela equipe deverá montar o plano estratégico de ação”, afirmou Cida Gonçalves.
Questionado sobre a declaração do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a respeito da pesquisa em que condenou o aumento da violência contra as mulheres após os jogos de futebol, mas disse que se o “cara caro for do Corinthians, tudo bem”, o ministro respondeu: “Nem um piada. do Presidente da República. Você não pode aceitar piadas de nada nem de ninguém […] Como mulheres, temos que recomeçar a não aceitar piadas, nem de negros, nem de gordos, nem de imigrantes, nem de mulheres, nem mesmo piadas homofóbicas. Nós não podemos. Não dá. A ideia de construir uma mobilização pelo feminicídio zero tem que começar aí. A prevenção termina aí”, disse ela.
Orçamento
Sobre o congelamento do orçamento do departamento de R$ 179,7 milhões, realizado pelo governo federal nesta terça-feira (30) para cumprir a meta fiscal de déficit zero, a ministra Cida Gonçalves defendeu mais recursos próprios para a execução de políticas públicas, além da existentes com outros ministérios, como Saúde e Justiça e Segurança Pública.
Proporcionalmente, o departamento teve a maior suspensão dos valores da Esplanada, representando 17% do orçamento.
Segundo a ministra, o corte será feito na área administrativa, como a redução de viagens, para que sejam preservados os recursos destinados às ações para as mulheres. “Eu realmente não entendo isso como um descrédito [contingenciamento]. Este é um desafio que temos que enfrentar”, explicou.
Ao revisar as atividades do ministério, Cida Gonçalves destacou a ampliação da capilaridade das políticas nos municípios, estados e no Distrito Federal por meio da criação, estruturação e fortalecimento de secretarias voltadas às mulheres.
Cida Gonçalves estima que o número de secretarias específicas para mulheres não chega a 700 em todo o país. A meta do governo federal é ter pelo menos 2 mil secretarias municipais e estaduais.
“Temos menos de 700 secretarias e algumas são superintendências, são diretorias, assessorias, não são secretarias femininas. Isso dá outro peso. Eu preciso de capilaridade. Eles podem ganhar bilhões [de reais] no Ministério da Mulher, mas não podemos executá-lo se não houver uma secretaria da Mulher no município. Para quem vou repassar os recursos? Quem irá coordenar? Quem dará a linha política?” exigiu o ministro.