Entre suas muitas funções, o influenciador Pablo Marçal, que concorre à prefeitura de São Paulo pelo PRTB, também se apresenta como dono de um banco e de uma seguradora. Como quase tudo que o envolve, porém, a história não é bem assim.
O banco, na verdade, não é exatamente um banco. E esta seguradora opera sem registros oficiais. Isso é o que mostra uma reportagem no site Metrópolespublicado nesta terça-feira, 3. Marçal não comentou o caso.
O ‘banco’ do qual Marçal é sócio, denominado Banco Geral, não está registado no Banco Central. Sem autorização para funcionar, a empresa se limita a terceirizar a abertura de contas em um banco real, o Asaas. No site de Marçal o processo custa 45 reais. Diretamente com o Assas, o serviço é gratuito. Em outras palavras, o cliente não paga nada.
Na prática, portanto, o falso banco de Marçal vende a abertura de uma conta à ordem que, na verdade, é gratuita.
O General Bank também cobra taxas para outras operações, como Pix e saques, que são gratuitos no banco Asaas. O contrato, aponta a reportagem, não deixa clara a manobra utilizada, contendo apenas menção à Asaas nos termos, indicando que esta instituição é responsável pelo sistema utilizado nas transações pelo Pix. O aviso também aparece em letras pequenas no aplicativo do ‘banco’ de Marçal.
O relatório do Metrópoles perguntado: “E para onde vão os R$ 45 cobrados pela plataforma do Banco Geral?” A resposta foi que os recibos e faturas do Pix indicam que a taxa vai para as contas da BRM1, empresa de Bruno Pierro. Pierro, amigo próximo de Marçal, está cadastrado como administrador do General Bank nas lojas de aplicativos e também seria responsável por outros 28 bancos falsos que operam de forma semelhante.
Publicamente, Pierro se apresenta como ‘co-fundador’ do banco falso ao lado de Marçal. Nos registros oficiais do General Bank, entretanto, o ex-técnico não consta como sócio ou fundador da instituição. Esta, porém, não seria a primeira omissão de bens do candidato. Estima-se que ele deixou de declarar pelo menos 135 milhões de reais ao TSE.
Apesar de não constar como sócio do General Bank, Marçal se gaba em palestras de ter comprado um banco. O faturamento do negócio seria, segundo ele, em torno de 400 milhões de reais.
“No dia em que comecei a ter clareza na minha vida, o que eu queria? Eu queria abrir um banco. Eu tenho um banco, o General Bank. Já está autorizado, agora. Tem muito negócio, nem anunciamos para não parecer um camelódromo digital”, disse Marçal em certa ocasião.
Outra impressão digital do candidato na instituição consta do registro de marca no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (Inpi). Lá, o ex-técnico é dona da marca que afirma prestar serviços bancários e vender cursos.
Companhia de seguros não registrada
Outro negócio nebuloso revelado pelo site é o de uma seguradora que opera sem registro na Superintendência de Seguros Privados (Susep), órgão do Ministério da Fazenda responsável pela fiscalização do setor no Brasil.
Esta seguradora é a Loovi, registrada sob o nome CW Technology Ltda, conforme consta nos contratos da empresa. Fundada em 2019 com capital de 50 mil reais, a empresa também não tem Marçal como sócio oficial. No papel, pertence a Quezide Cunha, outro amigo de Marçal, que também trabalha como treinador nas redes sociais.
Apesar disso, Marçal afirma frequentemente em palestras e entrevistas que faz parte do negócio e mente sobre a empresa ser uma seguradora: “Realmente, a Loovi é uma seguradora. Companhia de seguros!” ele exclamou em um evento registrado por Metrópoles. “Está na Susep, não é uma associação, é uma seguradora. E esta seguradora é muito simples: é a Netflix dos seguros. Eu garanto”, continuou Marçal.
Na prática, porém, assim como o banco falso, a suposta seguradora só vende produtos de outra empresa. A manobra não é clara para os clientes, que relatam problemas como falta de atendimento, negação de cobertura de sinistros e venda de seguros de outras empresas, sem que estes sejam devidamente informados.
Seguindo o mesmo modelo de negócio do banco, Marçal também utiliza a plataforma da seguradora para vender cursos. O curso principal ensina como ser corretor, com taxa de inscrição de 497 reais. Segundo Marçal, o valor é devolvido a quem consegue vender cinco apólices da empresa sem registro.
Mais uma vez, o candidato não comentou o caso.