A descoberta de um possível esquema ilegal de venda de joias e outros artigos de luxo recebidos pelo Brasil como presentes oficiais durante a presidência de Jair Bolsonaro teve repercussão internacional. Vários jornais e sites estrangeiros noticiaram o assunto.
Desde que a Polícia Federal indiciou o ex-presidente, na semana passada, por lavagem de dinheiro e outros crimes, numa investigação sobre o suposto desvio de joias doadas pela Arábia Saudita, o assunto tem chamado a atenção da imprensa internacional. No título, o jornal suíço Le Temps explica em sua edição desta quinta-feira, 9, que “Jair Bolsonaro é acusado de tentar roubar US$ 1,2 milhão em joias”.
Com base em informações divulgadas pela investigação nesta segunda-feira, 8, o diário relata como o ex-chefe de Estado teria se beneficiado de um sistema de venda ilegal de joias e artigos de luxo. “Alguns itens foram vendidos e os valores obtidos foram convertidos em dinheiro e entraram no patrimônio pessoal do ex-presidente sem passar pelo sistema bancário formal”, resumiu o jornal.
O caso foi noticiado pela primeira vez em março de 2023, pelo jornal O Estado de S.Paulo. As joias estavam dentro de uma mochila pertencente à delegação do ministro de Minas e Energia, que voltava de viagem oficial ao Oriente Médio. Autoridades do governo fizeram diversas ações para divulgar as peças, a última delas um dia antes do final do mandato de Bolsonaro. Posteriormente, foi revelada a existência de outros dois conjuntos de joias que não faziam parte do acervo presidencial após a saída de Bolsonaro do poder, apesar desse tipo de presente constituir patrimônio público, segundo o Tribunal de Contas da União.
O francês o mundo também relatou o escândalo e deu detalhes sobre os objetos envolvidos no caso. “Os presentes incluíram um anel, um colar e brincos da marca suíça Chopard no valor de cerca de 828 mil dólares, bem como relógios Chopard e Rolex em ouro e diamantes e outras joias”, refere o jornal vespertino, reproduzindo a informação divulgada pela polícia brasileira.
Património nacional
O jornal francês Libertação, que acompanha o caso desde a semana passada, escreve que “nos países democráticos, os presentes oferecidos aos chefes de Estado por convidados estrangeiros passam a fazer parte do património nacional e nunca são considerados presentes pessoais”. “No entanto”, compara o diário, “Jair Bolsonaro e a sua comitiva tentaram contornar esta regra”.
O jornal explica ainda que em França estes objetos são guardados no chamado Réserve Alma, “um exclusivo armazém de móveis perto das margens do Sena, no 7.º arrondissement de Paris, cujo endereço é mantido em segredo”. Apenas alguns itens são exibidos durante o Dia do Patrimônio, diz o Libertação.
“É a segunda vez em poucos meses que Bolsonaro é formalmente designado como suspeito de um crime”, contextualiza o jornal português Público. Em março, recorda o diário, o ex-presidente foi indiciado pela Polícia Federal na sequência de uma investigação sobre a alegada falsificação de certificados de vacinação contra a Covid-19. O ex-presidente também está a ser investigado por possível participação na tentativa de golpe de Estado após a derrota nas eleições de 2022, destaca o jornal português.
“O populista sul-americano, admirador de Donald Trump, ainda não se pronunciou sobre as últimas acusações contra ele, mas já havia negado qualquer irregularidade durante seu período como presidente”, resume o jornal britânico O guardiãoquem apelidou o porta-jóias Portal de joias.