O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que a aprovação do fim da desoneração da folha de pagamento para 17 setores da economia foi complexa e que o governo conseguiu algo que vinha sendo tentado há muito tempo.
“Foi muito difícil. Mais de dez anos tentando rever isso e ninguém conseguiu. E chegou um momento, envolvendo Supremo, Senado, Câmara, chegou a hora de colocar ordem nesse problema”, disse nesta quinta-feira, 12, em entrevista ao programa Bom dia, Ministroda comunicação institucional do Governo em parceria com rádios de diversos pontos do país.
Haddad afirmou que o processo foi dificultado pela pressão exercida por representantes de grandes empresas dos setores afetados pelo projeto de reoneração e defendeu a posição do governo de tentar reequilibrar as contas sem causar impacto nos programas governamentais voltados para a baixa renda.
“Eu sei que há muito lobby. Não há lobby pobre em Brasília. O que você tem é lobby empresarial; escritório de advocacia… Aqui é um inferno”, disse ela, sem meias palavras. “Você sai de uma grande empresa por dez anos sem pagar impostos para fazer um reajuste tributário em cima do salário mínimo? Bolsa Família?” ele perguntou.
Haddad também valorizou a relação com o Congresso, apesar da turbulência. Nomeou os presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL); e do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG).
“Estamos recebendo do Congresso a energia necessária e a compreensão de que essa fase acabou. Esta fase da agenda da bomba, da tartaruga, do favor, tem que acabar. Em busca de mais transparência, de oferecer apoio a quem precisa, e há empresas que precisam de apoio, como indústrias nascentes e aquelas de áreas estratégicas ou sensíveis”, comentou.
“Estou otimista com a economia brasileira. Sem subestimar os problemas e desafios, eles existem. Temos que abordar novas medidas, a cada ano há um processo de revisão e amadurecimento, inclusive político. Às vezes as pessoas reagem às mudanças necessárias e é natural: numa democracia ninguém impõe a sua vontade”, disse.
Imposto de renda e grandes fortunas
O ministro foi questionado sobre o aumento das faixas de isenção do Imposto de Renda (IR), promessa de campanha de Lula em 2022. Ele disse que a área técnica da Fazenda apresentou propostas sobre o tema, que está nas mãos de Lula.
“O presidente realmente se comprometeu com isso. Encomendou estudos que permitiriam que o último ano de seu governo chegasse à cifra de 5 mil reais [de faixa salarial para isenção]. Apresentamos a ele alguns cenários. Só posso falar quando ele validar um dos cenários, e aí será uma proposta do governo federal”, pontuou.
Consultado sobre a arrecadação de impostos sobre grandes fortunas, Haddad disse que o tema é objeto de discussão entre a área econômica dos países do G20, pois tentativas isoladas de determinados países não trouxeram resultados satisfatórios. A regulamentação internacional não está descartada.
“Nem todo super-rico está disposto a pagar impostos. Em geral, esse grupo tem uma certa dificuldade de enfrentamento ao fisco”, disse ela, entre risadas. “Não é simples, é uma construção difícil, mas o mundo precisa de novas ideias.”