Pesquisas recentes de intenção de voto para prefeito de São Paulo apresentam boas notícias para Ricardo Nunes (MDB) e Guilherme Boulos (PSOL) e indicam que a onda de Pablo Marçal (PRTB) não se transformou em tsunami (embora não seja possível descartar uma nova ascensão do antigotreinador). A análise é de Josué Medeiros, cientista político, professor da UFRJ e colunista do CartaCapital.
Entre quarta-feira, 11, e esta quinta-feira, 12, surgiram três novos inquéritos. Em resumo, eles apontam:
- Ficha de dados: Nunes com 27%, Boulos com 25% e Marçal com 19%.
- Questão: Nunes com 24%, Marçal com 23% e Boulos com 21%. Margem de erro de três pontos.
- AtlasIntel: Boulos com 28%, Nunes com 24,4% e Marçal com 20,1%. Margem de erro de dois pontos;
Para Medeiros, há uma consolidação de Boulos em patamar acima de 20% e uma demonstração de resiliência de Nunes – no caso do emedebista, parte do crédito vai para o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), que mergulha na campanha enquanto o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) se esconde.
Contra Marçal está o impacto dos dias sem debate (o último foi no dia 1 de setembro) e o facto de não ter direito a tempo de televisão na propaganda eleitoral. Ainda assim, pondera o cientista político, não se pode ignorar o domínio que o empresário exerceu sobre os bolsonaristas em sua breve participação no evento do 7 de Setembro na Avenida Paulista.
“O bolsonarismo é o time finalizador, aquele que cresce na reta final. Que o Marçal tenha estagnado agora, acho normal, porque ninguém consegue acompanhar o tipo de mobilização digital que ele fez”, afirma Medeiros. “Nos primeiros 15 dias causou, criou uma onda, mas não virou tsunami. Mas ele consegue acumular forças para uma nova onda nos últimos 15 dias.”
Uma boa oportunidade para Marçal será o debate no próximo domingo, dia 15, às 22h, no TV Cultura. Nos encontros anteriores, ele conseguiu assustar os adversários, fez atuações de baixo nível e gerou cortes em seus perfis nas redes sociais.
Medeiros não vê necessidade de campanha de Boulos promover mudanças drásticasapesar de parte da imprensa e do mundo político terem ficado assustados com os resultados da sondagem Quaest de terça-feira.
“A estratégia de uma candidatura como a de Boulos, que se prepara há quatro anos, tem elementos que não dá para mudar de um momento para o outro”, avalia o professor. “Claro que é preciso fazer ajustes, há um fenómeno como o Marçal que precisa de ser interpretado, mas nada que exija uma viragem de 180 graus.”
Um bom ajuste para a candidatura do psolista, na visão de Medeiros, seria dar mais ênfase à aliança com Lula (PT).
“Aumentar a presença do presidente não pode ser ruim. O governo está bem”, resume. “O Boulos precisa falar mais sobre o governo. Por exemplo: baixo desemprego, com registo positivo de criação de emprego. E o Nunes fala mais sobre isso do que o Boulos, tentando se apropriar disso.”
Segundo pesquisa do Datafolha, Marçal é o candidato mais rejeitado: 44% não votariam nele (eram 38% na pesquisa anterior). Em seguida vem Boulos, com 37%, enquanto Nunes marca apenas 19%.
Isso não significa, porém, que o baixo índice de rejeição do prefeito seja intransponível. Para Medeiros, esse índice tende a aumentar em um possível segundo turno, já que Bolsonaro (com alta rejeição na capital paulista) entraria na campanha de forma mais decisiva.
O PSOL espera que isso aconteça: Se um possível segundo turno acontecesse hoje e fosse contra Nunes, Boulos seria presa fácil. Contra Marçal, por outro lado, venceria o candidato de esquerda.
A ausência de Bolsonaro até agora criou, de certa forma, um trunfo para o prefeito: não houve uma nacionalização significativa de sua candidatura, ao contrário do que acontece com Boulos, candidato de Lula.
Outro movimento a ser observado nas próximas semanas é o comportamento dos eleitores que hoje dizem votar em Tabata Amaral (PSB) ou em José Luiz Datena (PSDB). No Datafolha, o pessebista pontua 8%; o tucano, 6%.
Ambos poderiam ser vítimas do chamado voto útil, segundo Medeiros: quem hoje diz que escolheria Tabata, por exemplo, poderia optar por Boulos para evitar o risco de o campo progressista ficar de fora do segundo turno.
“O último ciclo, os últimos 15 dias, é de pura emoção, em todas as eleições”, sublinha. “Muitas mudanças acontecem.”