O presidente Lula (PT) participou, nesta quinta-feira, 12, no Rio de Janeiro, de cerimônia em comemoração à devolução do manto sagrado Tupinambá ao Brasil.
O artefato retornou ao país no dia 11 de julho, sob sigilo, e está no Museu Nacional do Rio de Janeiro. O manto foi retirado do país no período colonial e estava na Dinamarca desde o século XVII, no ano de 1689.
A possibilidade do manto retornar ao Brasil foi discutida em 2022, quando o embaixador brasileiro esteve na Dinamarca e perguntou se o Museu Nacional do Rio de Janeiro teria interesse em receber a peça. A partir de então, a Embaixada do Brasil na Dinamarca, o Museu Nacional e lideranças Tupinambá da Serra do Padeiro e Olivença coordenaram o processo de retorno.
A devolução do artefato, porém, gerou polêmica. Em abril deste ano, o Ministério dos Povos Originários esteve no território Tupinambá, em Olivença (BA), para conversar com os indígenas sobre o manto e a relação que eles têm com o artefato. O objetivo era possibilitar o contato deles com a peça. Porém, os indígenas, que esperavam ter acompanhado a devolução do manto – considerado por eles de ancião – afirmam que não foram informados oficialmente de sua volta.
Durante a cerimônia, o idoso Yakuy Tupinambá criticou, ao ler um manifesto, a falta de transparência no processo de repatriação e no acesso ao manto; ela também fez reivindicações em relação à demarcação de terras indígenas.
“Reiteramos a nossa insatisfação com o postura colonizadora personificada pelo Estado brasileiropor meio de autoridades representativas que mais uma vez destroem nossos direitos originários e, muito mais que isso, ferem profundamente o que mais valorizamos: nossas crenças e nossa fé”, disse a indígena.
Em seu discurso, a Ministra dos Povos Originários, Sonia Guajajara, disse que os povos indígenas fazem parte de um processo de ‘descolonização’, e que a descolonização das estruturas de poder e das narrativas históricas está no início, mas agradeceu ao presidente Lula (PT) por permitindo a participação dos povos indígenas na composição do governo.
“Esse retorno [do manto ] É significativo, pois marca o compromisso de olhar criticamente para um passado colonial, tornando visíveis também as ações políticas dos povos indígenas, e de construir um futuro de justiça, dignidade e respeito”, declarou.
O presidente Lula (PT) iniciou seu discurso lamentando a morte de milhões de indígenas escravizados pelos colonizadores europeus. Ele também enfatizou que o manto indígena não deveria ficar no Rio de Janeiro, mas sim ser destinado à Bahia.
“O lugar dele não é aqui. Tenho certeza que teremos a compreensão do governador da Bahia. Ele tem a obrigação e o compromisso histórico de construir um local que possa receber esse manto e preservá-lo”, declarou em menção direta ao governador Jerônimo Rodrigues (PT).