O ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes, solicitou oficiosamente que o Tribunal Superior Eleitoral produzisse relatórios para respaldar decisões contra apoiadores de Bolsonaro no Consulta de notícias falsasem tramitação no STF, segundo mensagens divulgadas nesta terça-feira, 13, pelo jornal Folha de S.Paulo.
O material, com cerca de 6 gigabytes, abrange mensagens trocadas entre agosto de 2022 e maio de 2023. Os interlocutores são Airton Vieirajuiz e assessor de Moraes no STF, e Eduardo Tagliaferroespecialista que à época chefiava a Comissão Consultiva Especial de Combate à Desinformação do TSE.
De acordo com o conteúdo obtido pelo jornal, os casos não continham a informação de que a reportagem surgiu de uma demanda de Moraes, mas de um juiz auxiliar do TSE ou de uma denúncia anônima.
Um dos casos específicos diz respeito ao jornalista de Bolsonaro, Rodrigo Constantino, com dois pedidos para produzir reportagens em postagens nas redes sociais.
“Quem mandou isso, agora mesmo, foi o ministro e ele mandou dizendo: Você quer que eu faça o relatório? Ele é assim, está pensando nisso. Como está sem sessão esses dias, tem tempo de dar uma olhada”, disse Vieira em áudio enviado a Tagliaferro no dia 28 de dezembro de 2022. “É melhor para [as postagens]mude-o mais uma vez, então ele satisfaz sua excelência.”
O assessor do TSE respondeu que alteraria o documento e incluiria as postagens, embora considerasse que o conteúdo enviado inicialmente seria suficiente.
“Concordo com você, Eduardo”, respondeu Vieira. “Se você continuar procurando, você encontrará, obviamente. Mas como você disse, o que você já tem é suficiente. Mas não adianta, ele [Moraes] perguntou-se. Quando ele decide, é uma tragédia.”
Em 1º de janeiro de 2023, Vieira enviou a Tagliaferro cópia de duas decisões – confidenciais – de Moraes no Inquérito das Fake News emitidas com base na reportagem encaminhada.
Horas depois da publicação do relatório por Folha de S.PauloA assessoria de Alexandre de Moraes emitiu nota informando que o ministro, no âmbito do Inquérito das Fake News e do Inquérito das Milícias Digitais, emitiu ordens a “inúmeros órgãos”, inclusive o TSE, “que, no exercício do poder de polícia , tem autoridade para realizar denúncias sobre atividades ilícitas, como desinformação, discurso de ódio eleitoral, tentativa de golpe de Estado e ataques à democracia e às instituições”.
Segundo o comunicado, as reportagens apenas “descreviam postagens ilícitas realizadas nas redes sociais, de forma objetiva, por estarem diretamente ligadas às investigações sobre milícias digitais”.
“Todos os procedimentos foram oficiais, regulares e estão devidamente documentados nos inquéritos e investigações em curso no STF, com plena participação da Procuradoria-Geral da República.”
O jornal afirma ter obtido o material de fontes que tiveram acesso aos dados de um telefone contendo as mensagens, sem interceptação ilegal ou participação de hacker.