O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, reclamou nesta terça-feira, 16, da descontextualização das declarações do presidente Lula (PT) ao Registroresultado da decisão da emissora de divulgar trechos específicos da entrevista, cuja íntegra irá ao ar esta noite.
Segundo Haddad, essa estratégia de divulgação gera especulações desnecessárias sobre a política fiscal do governo.
Nas últimas semanas, setores do mercado criticaram Lula pelo ataque ao presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, e por uma suposta falta de sinalização quanto à sua disposição em cortar gastos. A área econômica tenta a todo custo evitar uma nova alta do dólar, como a que ocorreu entre o final de junho e o início de julho.
Em um dos recortes que começam a gerar repercussão, Lula diz: “É apenas uma questão de visão. Você não é obrigado a definir uma meta e cumpri-la se tiver coisas mais importantes para fazer. Este país é muito grande, este país é muito poderoso. O que é pequeno são as cabeças dos líderes deste país e as cabeças de alguns especuladores.”
Haddad afirmou, porém, que Lula reforçou seu compromisso com o marco fiscal, desenhado pelo atual governo em substituição ao teto de gastos de Michel Temer (MDB). Posteriormente, o Ministério da Fazenda divulgou outro trecho da entrevista, em que Lula afirma:
“Faremos o que for necessário para cumprir o quadro fiscal. Eu disse na campanha que íamos criar um país com estabilidade política, jurídica, fiscal, económica e social. Essa responsabilidade, esse compromisso — posso dizer para vocês como se estivesse falando para um dos meus filhos, para a minha esposa —, responsabilidade fiscal, não aprendi na faculdade, trouxe desde o nascimento.”
No início de julho, Haddad anunciou um corte de 25,9 bilhões de reais em despesas obrigatórias no Orçamento de 2025, para cumprir o marco. Nesta terça-feira, o ministro afirmou que o Planejamento, secretaria chefiada por Simone Tebet (MDB), divulgará detalhes sobre essa redução nos próximos dias.
O ministro da Fazenda também declarou que se reunirá com Lula nos próximos dias para discutir o Orçamento deste ano e indicou a possibilidade de anunciar bloqueios e contingências para respeitar a regra fiscal.
O quadro prevê défice zero em 2024 e 2025. Na prática, significaria um resultado neutro nas contas do governo, sem considerar os juros da dívida pública. A regra oferece, porém, uma tolerância de 0,25% do PIB para mais ou para menos, margem citada por Lula na entrevista ao Registro.
“Este país não tem problema se for um défice zero, se for um défice de 0,1%, se for um défice de 0,2%. Não há problema para o país. O que é importante é que este país esteja a crescer, que a economia esteja a crescer, que o emprego esteja a crescer, que os salários estejam a crescer”, disse o presidente.
Esse trecho reforçou a estratégia do “botão quente” de Haddad: “Ele disse que poderia ser zero, 0,1. Isso acontece até dentro da banda.”