A prefeitura de São Paulo enfrenta novas acusações de superfaturamento em contrato assinado na gestão de Ricardo Nunes (MDB). Desta vez, o alvo da suspeita é a aquisição de água e alimentos para a população em situação de rua da cidade. Os itens fazem parte da Operação Baixas Temperaturas, iniciativa realizada durante o inverno.
A informação foi revelada em reportagem no site UOL nesta sexta-feira, dia 16. Segundo a publicação, além do preço dos produtos, que ficaria até 400% acima dos praticados no mercado, a gestão Nunes pode ter favorecido uma empresa ligada a um vereador da base aliada.
Os documentos citados indicam que a gestão de Nunes pagou aproximadamente R$ 4,11 por cada garrafa de meio litro de água mineral. A mesma marca é vendida a partir de 77 centavos nos supermercados da cidade. O superfaturamento, neste caso, ultrapassa 400%.
Em outro item dos contratos, sopas, a prefeitura paga R$ 11,92. O valor é pouco mais de 10% acima do valor pago pelas marmitas da mesma empresa adquiridas em outro programa, o Cozinha Cidadã. A quantidade de sopa, porém, é drasticamente menor, tendo metade do tamanho das lancheiras mais baratas.
A gestão de Nunes também paga quase R$ 5 por copo de achocolatado e cerca de R$ 4 reais por copo de chá.
Diariamente, o contrato custa aos cofres públicos 143 mil reais. Até o momento, indicam documentos citados pelo site, foram adquiridos 3,4 milhões de itens a um custo total de 20 milhões de reais.
Favorecendo
O vereador supostamente favorecido, segundo o UOLé Rodrigo Goulart (PSD), integrante da base aliada de Nunes na Câmara Municipal. A família do político, indica a publicação, é dona da Prime Alimentação e Eventos. A empresa venceu a licitação depois que quatro concorrentes, com preços mais baixos, foram desclassificados do processo.
Goulart, vale lembrar, assinou pedido de abertura de CPI para investigar ONGs que fornecem alimentos à população em situação de rua em São Paulo. A CPI mirou a atuação do padre Julio Lancellotti na região da Cracolândia. A investigação foi suspensa após alguns vereadores recuarem diante da repercussão negativa da CPI. Goulart, porém, manteve a assinatura contra o religioso.
A família do vereador também tem outras ligações na prefeitura. Um primo dos donos do Prime, aponta o site, foi nomeado chefe de gabinete de uma subprefeitura da zona sul. O salário é de 26 mil reais.
Duração do contrato
Conforme mencionado, os itens são distribuídos no período de inverno, quando a população em situação de rua se encontra em situação ainda mais vulnerável. A licitação, porém, prevê a compra de alimentos e bebidas suficientes para durar 372 dias ou pouco mais de um ano.
Os custos de transporte dos produtos até as dez tendas da Operação Baixas Temperaturas também estão cobertos pelo contrato.
Segundo a investigação, a logística representa apenas 3% do valor total pago pela gestão municipal.
Outro lado
A direção de Nunes não comentou o superfaturamento dos produtos, mas afirmou não ver irregularidades no contrato com a Prime. O suposto favoritismo também foi negado, com a alegação de que a empresa foi escolhida após os outros quatro concorrentes terem sido desclassificados por não “atendirem integralmente aos requisitos relativos à documentação solicitada no edital de licitação”.
Goulart, por sua vez, diz ser apenas amigo dos donos do Prime e sustenta que não participou do processo de contratação. A empresa citada não comentou.
A revelação ocorre poucas semanas depois de Nunes se encontrar no centro da chamada máfia das creches. Uma empresa da família do político estaria envolvida no desvio de recursos públicos da prefeitura. Ele não foi acusado, mas as investigações contra ele no caso foram ampliadas.