A repercussão do episódio de agressão envolvendo José Luiz Datena (PSDB) e Pablo Marçal (PRTB) no debate da TV Cultura tende a ser mais intensa na campanha de Ricardo Nunes (MDB) do que na candidatura de Guilherme Boulos (PSOL), avalia Josué Medeiros, cientista político, professor da UFRJ e colunista do CartaCapital.
Nunes tem o apoio formal de Jair Bolsonaro (PL), mas sofre com a migração de parte significativa dos eleitores do ex-presidente para Marçal. Pesquisas recentes também indicam uma tendência crescente na rejeição de ex-treinadore esse é um ponto a ser explorado pelo prefeito.
Portanto, avalia Medeiros, não faria sentido Nunes simplesmente reforçar o papel de vítima de Marçal após ter sido agredido por Datena com uma cadeira, no palco do debate.
“Vimos o candidato Datena perder a cabeça, mas ele foi provocado, foi defender a honra da sogra”, disse Nunes em suas considerações finais. “Ele fez errado, mas também não é certo ofender as pessoas. Precisamos ter equilíbrio.”
No programa Direto das Eleições nesta segunda-feira, 16, com transmissão no CartaCapital no YouTube, Josué Medeiros afirmou que se trata de uma estratégia de Nunes para tentar conter a perda de eleitores bolsonaristas para Marçal.
“Se ele simplesmente se levantar contra a agressão, ajuda a narrativa de Marçal”disse o professor. “Essa construção de marketing político será mais para Nunes do que para Boulos.”
Dados levantados por Pedro Barciela, analista de redes sociais especializado em política, indicam que a repercussão inicial do episódio não tem sido boa para Marçal. Segundo ele, cerca de 35% das menções no Instagram e no Facebook elogiaram Datena, enquanto 25% zombaram da situação, destacando o presidente como o “ator principal” das piadas. Já 20% criticaram o comportamento de Marçal. Ou seja, aproximadamente 80% das interações tiveram um viés negativo em relação ao autoproclamado “ex-treinador”.
Depois da confusão no debate, Boulos fez uma comparação entre o caso deste domingo e a bolinha de papel que atingiu José Serra (PSDB) na campanha presencial de 2010. Na avaliação de Medeiros, este é mais um elemento para “desmoralizar as tentativas de vitimização que Marçal possa cometer com base em notícias falsas“.
Na ocasião, o tucano passeava pelo Rio de Janeiro quando levou a mão à cabeça, indicando que havia sido atingido – uma bolinha de papel e um rolo de adesivos atingiram Serra, no meio de um confronto entre Ativistas do PT e do PSDB.
Com a mão na cabeça, o então candidato correu e entrou em uma van, empurrado pelos seguranças. Os apoiadores do PT na época foram irônicos com o que viram com a tentativa de seu oponente de exagerar um episódio pouco sério.
Dilma Rousseff (PT) venceu Serra no segundo turno dessa disputa, por 56% a 44% dos votos válidos.
Assista ao programa completo Direto das Eleições nesta segunda-feira: