O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, adiou por 40 dias o início do acordo com a Âmbar Energia, empresa do grupo J&F, dos irmãos Batista, até que o Tribunal de Contas da União conclua a análise do acordo. A decisão foi comunicada ao Tribunal através de ofício enviado terça-feira e obtido por CartaCapital.
Assinado em maio pelo ministério, o acordo teria início no dia 22 de julho. Com o adiamento, ela entrará em vigor a partir de 30 de agosto. No documento enviado à presidência do TCU, o ministro defendeu o acordo como a melhor solução para eliminar riscos jurídicos e reduzir custos para os consumidores de energia.
O processo no TCU foi aberto a pedido do advogado Lucas Rocha Furtado, representante do Ministério Público na Justiça, sob a alegação de que o acordo poderia beneficiar indevidamente a empresa dos irmãos Joesley e Wesley Batista.
Na segunda-feira, o ministro Benjamin Zymler pediu esclarecimentos à secretaria chefiada por Silveira e à Agência Nacional de Energia Elétrica sobre pelo menos cinco temas do acordo. O juiz quer saber, entre outras coisas, a reciprocidade das condições do acordo e o seu prazo de validade.
Braço jurídico do governo Lula (PT), a Procuradoria-Geral da República endossou a posição do MP e defendeu a suspensão do contrato com Âmbar em parecer enviado ao TCU nesta terça-feira.
O impasse envolve um contrato de quase 19 bilhões de reais assinado em caráter emergencial pelo governo Jair Bolsonaro para a construção de quatro termelétricas. A empresa do grupo J&F, porém, atrasou a operação das unidades e poderá ter o negócio cancelado.
Esse impasse foi levado à câmara de conciliação do TCU. Os técnicos do tribunal concluíram que não foi possível chegar a acordo com a empresa, mas o ministério liderado por Silveira continuou as negociações. O acordo prevê o pagamento de uma multa de 1 bilhão de reais para manter o contrato.
Pelos termos do acordo, a Âmbar fornecerá a energia adquirida por meio de outra usina do grupo, localizada em Cuiabá (MT), mas com redução de 65% no valor original do contrato.
Procurado pela reportagem, o Ministério de Minas e Energia informou que não comentaria o conteúdo do acordo em andamento antes da análise de mérito do TCU. Ele também argumentou que o acordo levará em conta “maior economia para o consumidor de energia e segurança energética, buscando equidade com outros acordos de PCS já em vigor”.
Em nota, a Âmbar Energia afirma que “sempre buscou uma solução que evitasse a judicialização do caso, o que oneraria o erário e obrigaria o consumidor a pagar integralmente com o contrato original”.