Protagonista de um dos primeiros e mais emblemáticos casos da Lava Jato, o doleiro Alberto Youssef está mais uma vez no centro de um episódio potencialmente explosivo com implicações para diversas outras investigações sobre a operação.
A nova polêmica decorre de um acontecimento ocorrido em 2014: a infame escuta ilegal na cela onde Youssef estava detido. Após uma longa batalha judicial, a defesa teve acesso aos áudios nesta quarta-feira, 17.
Coube ao juiz Guilherme Roman Borges, substituto na 13ª Vara Federal de Curitiba (PR), decidir no início de julho que Youssef tem o direito de verificar os resultados das escutas clandestinas.
Durante sua breve passagem pela 13ª Vara, no ano passado, o desembargador Eduardo Appio já havia solicitado as gravações à Polícia Federal. Porém, uma dúvida central permaneceu: o local de armazenamento do HD com os grampos. Você estava na PF? Com o Ministério Público Federal?
Somente depois que o Conselho Nacional de Justiça exigiu respostas e Roman Borges determinou o acesso de Youssef aos áudios é que os advogados do doleiro descobriram que o conteúdo estava na própria 13ª Vara.
Agora, mais de 200 horas de gravações estão em poder da defesa, distribuídas em 64 arquivos. Outra surpresa para os advogados, porém, é o fato de que aparentemente 26 arquivos foram excluídos. Eles terão que analisar todo o material e fazer um exame para saber se esses áudios estão de fato perdidos ou se foram recuperados.
A defesa também levará as novas informações ao Supremo Tribunal Federal e ao CNJ, a fim de fortalecer as petições de Youssef que já tramitam.
A tendência é que, pelo menos neste momento, Alberto Youssef atue com cautela. Ele tem a opção de lutar em tribunal para anular o seu acordo judicial, embora isso possa resultar na perda dos benefícios do acordo. Uma alternativa intermediária seria utilizar gravações clandestinas para tentar derrubar algumas de suas convicções.
Este “xadrez legal”, porém, não afeta apenas o doleiro; interessa a todos os envolvidos na sua reclamação. Qualquer decisão sobre o caso Youssef terá implicações simbólicas e práticas para diversos personagens.
A defesa no processo de escuta telefônica fica a cargo do advogado Gustavo Rodrigues Flores.
A CartaCapitalo advogado Antônio Carlos de Almeida Castro, conhecido como Kakay, ressalta que já eram conhecidos dois aspectos graves sobre as escutas na cela de Youssef: a própria gravação ilegal e a posterior tentativa de encobrê-la, motivada pelo temor de que o escândalo pudesse levar à anulação da operação Lava Jato.
“Agora chega a notícia de que parte do áudio foi apagada, o que é ainda mais grave, é uma evidente obstrução à justiça”, avalia Kakay.
Ele defende uma investigação específica que atinja o ex-juiz Sergio Moro (chefe da 13ª Vara na época do grampo) e os procuradores da Lava Jato, especialmente Deltan Dallagnol.
“Não é possível que essa instrumentalização do Judiciário, do Ministério Público e dos delegados federais não possa ser investigada e punida exemplarmente.”
Relatório da Corregedoria da PF atesta que a gravação ilegal ocorreu em março de 2014. Na cela onde o equipamento foi instalado estavam outros quatro presos da Lava Jato: Luccas Pace, Carlos Rocha, André Catão e Carlos Alberto Pereira da Costa.
A investigação interna realizada pela corporação nos meses seguintes concluiu que Ficou comprovada a “existência de indícios” da instalação de equipamentos de interceptação ambiental.
Segundo a reportagem, o conjunto de áudios demonstra que o equipamento foi utilizado “por pelo menos 12 dias (…) em cela de custódia SR/DPF/PR, em horário compatível com a primeira fase da Operação Lava Jato, quando foi prendeu, entre outros, o doleiro Alberto Youssef”.