Depois de quase um mês, o Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo (TRE-SP) julgará a ação que determinou o bloqueio das redes sociais do candidato a prefeito de São Paulo, Pablo Marçal (PRTB). O julgamento está marcado para a próxima segunda-feira, dia 23, e será realizado em plenário.
A Justiça determinou a suspensão dos perfis de Marçal no dia 24 de agosto. A decisão, tomada pelo juiz Antonio Maria Patiño Zorzda 1ª Zona Eleitoral de São Paulo, atendeu a um pedido do PSB, sigla da também candidata Tabata Amaral.
Na prática, a decisão bloqueou as contas de Marçal no Instagram, X, TikTok, YouTube e Discórdiabem como o site oficial do candidato. A ideia é evitar que o candidato pague seguidores que divulguem seu conteúdo, diante da suspeita da prática, proibida pela lei eleitoral.
O argumento de Marçal
Marçal argumenta que não paga para que os usuários publiquem conteúdos favoráveis à sua campanha. Na entrevista que concedeu ao programa Roda Vivado TV Culturano início do mês, ele disse que a prática “não constitui [ilegalidade] porque não existe tal pagamento.”
Contudo, uma reportagem de jornal O Estado de S. Paulopublicado no dia 9 de setembro, mostrou que o nome do candidato ainda estava envolvido em uma espécie de campeonato com remuneração em dinheiro.
Segundo a publicação, Marçal promoveu pelo menos três campeonatos dessa natureza, com premiações no valor de cerca de 125 mil reais, no app Discórdia. Os dados estavam no canal oficial do candidato.
A última delas, segundo a reportagem, ocorreu no dia 18 de agosto. Ou seja, durante o período de campanha eleitoral, o que, em tese, poderia configurar uma prática contrária às normas que regem a disputa eleitoral.
Logo após a decisão de primeira instância, Marçal recorreu ao TRE paulista, pedindo a recuperação de suas contas, sob o argumento de que o bloqueio configura “verdadeira censura prévia”.
Marçal usa o argumento de que vive sob censura, por exemplo, quando participa dos debates entre os candidatos a prefeito de SP ocorridos até agora. Como o seu partido, o PRTB, não tem o direito de utilizar horários eleitorais gratuitos na rádio e na televisão – devido a um mecanismo conhecido como cláusula de barreira –, Marçal tem a sua principal plataforma de exposição nas redes sociais.
Apesar do bloqueio das contas oficiais, uma série de perfis paralelos ligados ao candidato permanecem ativos. É lá que Marçal lança vídeos e promove ‘cortes’. Fez isso, por exemplo, quando deu entrada no hospital Albert Einstein, após ser agredido por José Luiz Datena (PSDB) no último fim de semana.
Relator em segunda instância e Ministério Público são contra
A demanda de Marçal em segunda instância não teve a recepção que o candidato esperava. Pelo menos, até agora. O relator do caso no TRE-SP negou a restauração dos perfis. A decisão foi tomada no dia 29 de agosto pelo juiz Cláudio José Langroiva Pereira.
O argumento do juiz é que “toda manifestação de candidato no processo eleitoral brasileiro não é totalmente gratuita, mas sujeita às normas e diretrizes que a regem”. Na decisão, o juiz destacou que são proibidas “condutas e instrumentos que desequilibrem o processo”, como abuso de poder econômico.
A Procuradoria Regional Eleitoral de São Paulo já se pronunciou sobre o caso. Num parecer enviado no dia 9 de setembro, a organização defendeu a continuação do bloqueio das contas de Marçal, dizendo que “os recursos injetados no ‘campeonato dos cortes’, além de pouco transparentes, revelaram-se enormes, tornando a alegação de abuso credível. do poder econômico.”
Enquanto isso, o candidato se encontra em um momento desafiador da campanha. Desde a semana passada, as principais pesquisas de intenção de voto captam queda na preferência do eleitorado de Marçal, que segue atrás do prefeito Ricardo Nunes (MDB) e do deputado federal Guilherme Boulos (PSOL).
A última rodada da pesquisa Quaest, divulgada na última quarta-feira, 18, mostrou uma redução de três pontos percentuais nas intenções de voto em Marçal. O caso da cadeira de rodas, por exemplo, fez Marçal perder o controle da narrativa nas redes, segundo especialista ouvido pelo CartaCapital.
Nesta quinta-feira, 19, é a vez do Datafolha divulgar sua nova pesquisa para a prefeitura da capital paulista.