O ex-presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (Republicanos), saiu em defesa de Domingos Brazão no caso Marielle Franco. Domingos, ao lado do irmão Chiquinho, é apontado pela Polícia Federal como mandante do assassinato da vereadora em 2018. Cunha foi ouvido como testemunha em defesa de Brazão em audiência do caso realizada nesta sexta-feira, 20. Supremo Tribunal Federal.
Segundo Cunha, aliado histórico do clã Brazão no Rio de Janeiro, os irmãos não tinham ligação com a milícia e tinham diversos negócios na cidade apenas como forma de complementar a renda das atividades parlamentares que, nas palavras de Cunha, “insuficiente para manter um bom padrão de vida”.
Os negócios mantidos pela dupla no Rio e defendidos por Cunha são pontos-chave na investigação do crime. São esses negócios que, segundo a PF, teriam motivado o assassinato de Marielle em 2018. Na ocasião, o vereador do PSOL teria criado dificuldades para os empreendimentos da dupla ao tentar bloquear projetos de lei que tratavam da ocupação de terras na zona oeste do Rio. .
Para o ex-presidente da Câmara, porém, a hipótese não se sustenta porque, supostamente, não está ligada ao ramo comercial da dupla. As provas colhidas durante a investigação, porém, vão na direção oposta à defendida por Cunha. Os trechos do depoimento replicado abaixo foram obtidos e divulgados pelo jornal O Globo:
“Ele [Domingos] fez negócios, atividades comerciais. Tinha postos de gasolina, tinha, não sei, lojas. Depois comprou mercadorias em leilão para vender por mais. Atividade para obtenção de lucro, que foi onde formou seu patrimônio, sustentou sua família, pois a atividade de mandato de deputado é uma atividade de abstinência. O salário de um parlamentar não é suficiente para manter um bom padrão de vida”argumentou Cunha em defesa de seu aliado. “Então, muitos parlamentares ou muitos políticos têm outras atividades empresariais e comerciais para manter um bom padrão de vida, e com Brazão não foi diferente. Não tem nada a ver com subdivisão. É um absurdo“, acrescentou então.
Domingos Brazão é conselheiro do Tribunal de Contas do Rio, mas já ocupou o cargo de deputado estadual e também foi vereador no Rio. Atualmente ele recebe cerca de 40 mil reais por mês. Mesmo preso pelo crime, Domingos continua sendo remunerado pelo Estado, que acatou decisão do Superior Tribunal de Justiça sobre o assunto. Chiquinho Brazão, que é deputado federal e já foi vereador no Rio, tem um salário em torno de 41 mil reais.
O crime também estaria diretamente relacionado ao envolvimento da dupla em uma organização criminosa ligada à milícia carioca. A dupla, segundo o denunciante Ronnie Lessa, pretendia implantar um novo grupo paramilitar na região. Em seu depoimento, Cunha argumenta que nunca presenciou nenhuma atividade criminosa da dupla.
“Participei de diversas campanhas com ele: campanhas para governador, prefeito… houve uma convivência. Não há possibilidade de ele estar ligado a uma organização criminosa”, disse em defesa de Brazão, segundo este O Globo.
“Rejeito completamente esta acusação. Não presenciei nenhum acontecimento que indicasse relação com milicianos e, se tivesse visto algo assim, certamente não teria continuado a caminhar ao lado deles”, insistiu Cunha antes de dizer que estava “absolutamente convencido da inocência deles” de Domingos e Chiquinho no caso.
O ex-deputado não foi o único a defender os irmãos nesta sexta. O outro depoimento foi de Washington Quaquá, deputado federal pelo Rio de Janeiro e um dos vice-presidentes do PT. O político disse, assim como Cunha, acreditar na inocência de Domingos. “Matar o vereador é estúpido. Brazão é um estrategista político, não faria isso. Brazão sempre agiu com a cabeça. Ele é inteligente acima da média”, afirmou o petista em trecho do depoimento também divulgado pelo jornal.