Principal assessor especial do presidente Lula (PT) para assuntos internacionais, o ex-chanceler Celso Amorim vê emergir um cenário crítico na Venezuela, mas afirma que o governo brasileiro fará o que estiver ao seu alcance para evitar a escalada do conflito.
Amorim conversou com CartaCapital pouco depois de o Supremo Tribunal de Justiça, o principal tribunal do país, confirmar o triunfo do presidente Nicolás Maduro nas eleições de 28 de julho. A oposição, por sua vez, alega fraude no processo e afirma que Edmundo González Urrutia venceu.
“Vejo as coisas como realmente muito difíceis, mas estamos sempre a tentar, com a ajuda de outros e em parceria com outros países que têm uma visão semelhante à nossa, fazer o que podemos para evitar uma situação muito conflituosa internamente”, disse o ex-ministro.
Inicialmente, Brasil, Colômbia e México se uniram e emitiram declarações conjuntas exigindo a publicação dos registros eleitorais de Caracas. Posteriormente, o presidente mexicano, Andrés Manuel López Obrador, distanciou-se de Lula e do colombiano Gustavo Petro sobre o assunto.
Lula e Petro, por sua vez, chegaram a sugerir a realização de novas eleições – o petista de forma informal e menos incisiva que o aliado colombiano.
No relatório, Celso Amorim lembrou a criação, em 2003, do Grupo de Países Amigos, formado por Brasil, Chile, Espanha, Estados Unidos, México e Portugal, com o objetivo de buscar uma saída pacífica para a crise na Venezuela. Lula, então no primeiro mandato, foi protagonista do processo.
Na ocasião, o grupo conseguiu fomentar o diálogo entre governo e oposição, além de reduzir as tensões entre os então presidentes da Venezuela, Hugo Chávez, e dos Estados Unidos, George W. Bush.
“Naquela altura havia, apesar de tudo, mais vontade política”finaliza o assessor presidencial.
Ao oficializar o reconhecimento da vitória de Maduro, o Supremo Tribunal venezuelano informou que se tratava de uma decisão “inquestionável”. A juíza Caryslia Rodríguez, responsável pela leitura da sentença, também afirmou que González Urrutia não compareceu às audiências convocadas pelo tribunal, desrespeitou a Justiça e, portanto, está sujeito a sanções.
Também esta quinta-feira, o procurador-geral Tarek William Saab – aliado de Maduro – anunciou o registo de mais duas mortes ligadas a episódios de violência pós-eleitoral no país. Isto eleva para 27 o número total de mortes desde as eleições de julho.
Os protestos contra o resultado eleitoral deixaram quase 200 feridos e mais de 2.400 detidos, chamados de “terroristas” pelo governo.