O ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes vinculou o vazamento de mensagens de membros do seu gabinete a uma ação estruturada de desestabilização de instituições – principalmente o STF – cujo principal objetivo seria a derrubada do Estado Democrático de Direito.
A avaliação consta de decisão assinada na última sexta-feira, 23, por meio da qual Moraes determinou que a Polícia Federal abrisse inquérito para apurar a divulgação dos diálogos – o material deu origem a uma série de reportagens no jornal Folha de S.Paulo.
A fuga, escreveu o ministro, revela-se como mais um indício do funcionamento de uma possível organização criminosa contra a democracia, “utilizando uma rede virtual de apoiantes que actuam, de forma sistemática, para criar ou partilhar mensagens que visam mote final a derrubada da estrutura democrática e do Estado de Direito no Brasil”.
O caso, na avaliação de Moraes, tem relação direta com o Inquérito das Fake News, uma das mais polêmicas investigações em curso no Supremo, do qual ele é relator. Por isso, o magistrado também se encarregou da investigação do vazamento.
“Esta organização criminosa, ostensivamente, ataca a Democracia e o Estado de Direito, especificamente contra o Poder Judiciário e em particular contra o Supremo Tribunal Federal, pedindo o impeachment de seus integrantes e o fechamento do Supremo Tribunal do País, com o retorno da Ditadura e o afastamento da fiel observância da Constituição Federal da República”, argumentou, na decisão da semana passada.
A hipótese original do ministro aponta para indícios dos crimes de divulgação de segredos e violação de sigilo funcional, “no contexto de repetidos ataques ao Estado Democrático de Direito e ao Supremo Tribunal Federal”.
Na quinta-feira, 22, Moraes autorizou a apreensão do novo celular Eduardo Tagliaferroex-chefe da Comissão Consultiva Especial de Combate à Desinformação do Tribunal Superior Eleitoral. Ele é um dos interlocutores dos diálogos que, segundo o Folha de S.Paulorevelam a conduta não oficial do ministro para investigar apoiadores de Bolsonaro nas investigações das Fake News e das Milícias Digitais.
No ano passado, outro celular de Tagliaferro foi apreendido após sua prisão em um caso de suposta violência doméstica. O aparelho permaneceu sob controle da Delegacia Seccional de Franco da Rocha, na Grande São Paulo, entre os dias 9 e 15 de maio de 2023. Após esses seis dias, o ex-assessor do TSE recuperou o telefone.
Moraes cita na decisão desta quinta dois artigos publicados pela Revista Fórum que, em sua avaliação, apontam inconsistências nas informações relacionadas à posse do celular “qual é a provável origem do vazamento da mensagem”.
Ele também determinou que a PF acabe com o depoimento de Tagliaferro. Durante a audiência, a polícia pediu ao ex-assessor que entregasse voluntariamente seu celular para exame técnico, mas ele recusou. Posteriormente, a corporação solicitou a apreensão do aparelho, obteve autorização da Procuradoria-Geral da República e foi assistida por Moraes.
Segundo o ministro, a recusa de Tagliaferro em entregar voluntariamente o dispositivo “é um fator relevante para autorizar a medida de busca solicitada, uma vez que os dados contidos no referido dispositivo são de interesse público e interessam à presente investigação”.