O assessor especial para assuntos internacionais do presidente Lula (PT), o ex-chanceler Celso Amorim, mantém o plano de viajar à Venezuela na tarde desta sexta-feira, 26, para acompanhar de perto as eleições presidenciais de domingo. Em contato com CartaCapitalNo entanto, ele não descartou mudanças no cronograma.
A semana que antecedeu as eleições foi marcada por atritos entre Nicolás Maduro, que busca o seu terceiro mandato de seis anos, e líderes políticos sul-americanos, incluindo Lula. As divergências ganharam força quando o chavista declarou, em comício, que haveria um “banho de sangue” caso vencesse o principal candidato da oposição, Edmundo González.
“Não fui formalmente convidado, mas vou. Eles convidaram o Brasil. Em princípio mantenho, mas vamos ver como serão as próximas 24 horas“disse Amorim.
Além das declarações incendiárias sobre um possível triunfo da oposição, Maduro questionou a justiça do sistema de votação eletrônica no Brasil. Posteriormente, o Tribunal Superior Eleitoral reagiu às denúncias e anunciou a desistência do envio de observadores a Caracas.
“Não vamos lá fazer fiscalização eleitoral – não tenho condições de fazer isso -, mas vamos fiscalizar outros órgãos que tenham mais capacidade, que tenham credibilidade, como o Carter Center”, explicou Amorim . “Ninguém quer interferir na política interna da Venezuela, mas, obviamente, o que acontece na Venezuela afeta os seus vizinhos, a começar pelos refugiados.”
O ex-chanceler destacou ainda a importância de trabalhar para que as sanções aplicadas pelos países e blocos contra Caracas não sejam “eternizadas”. Ele vê responsabilidade, por exemplo, por parte da União Europeia, por não ter levantado as punições impostas aos venezuelanos.
“Queremos contribuir para uma solução que permita, em suma, que as eleições sejam corretas”, resumiu. “Isso não depende de nós, mas a presença lá tem um significado simbólico do interesse do Brasil – não para interferir nos negócios da Venezuela, mas para trazer a Venezuela de volta à integração sul-americana.”
Questionado se há indícios concretos de que o resultado eleitoral de domingo será respeitado, independentemente de quem vença, Amorim manifesta-se confiante. “Claro. Espero contar também com a cooperação dessas entidades com as quais já temos contato, principalmente o Carter Center.”
Criado pelo ex-presidente americano Jimmy Carter, o centro que leva seu nome é conhecido por promover a paz e os direitos humanos por meio da observação e mediação de processos eleitorais em todo o mundo. Em relação à Venezuela, esclareceu que “não realizará uma avaliação abrangente dos processos de votação, contagem e apuramento”, dedicando-se a monitorizar o funcionamento “da estrutura jurídica nacional, bem como das obrigações e normas regionais e internacionais de direitos humanos”. ”.
Além da disputa presidencial, acrescentou, é preciso abrir caminho para que as eleições parlamentares se realizem “com mais confiança” em 2025.
Em 2018, a reeleição de Maduro não foi reconhecida pelos Estados Unidos, pela União Europeia e por vários governos latino-americanos, incluindo os do Brasil e da Argentina, após alegações de fraude por parte da oposição. Desta vez, qualquer que seja o resultado da votação, o governo Lula enfrentará um cenário delicado:
- se Maduro perdera comunidade internacional exigirá a transição de poder, num cenário de incerteza sobre como reagirão os chavistas;
- se ele ganharé provável que vários países questionem a legitimidade do processo eleitoral e não reconheçam o resultado.