O presidente Lula (PT) confirmou nesta quarta-feira, 28, a nomeação de Gabriel Galípolo para substituir Roberto Campos Neto na presidência do Banco Central. O anúncio partiu do ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
Ao lado de Haddad, Galípolo comemorou a escolha, que chamou de “uma grande responsabilidade”. Agora, cabe ao Senado referendar a decisão, após audiência na Comissão de Assuntos Econômicos e votação no plenário.
Desde junho de 2023, chefia a Diretoria de Política Monetária do BC, anteriormente ocupada por Bruno Serra Fernandes. Galípolo assumirá o comando do BC no início de 2025, quando termina o mandato do atual presidente – Campos Neto está no cargo desde 28 de fevereiro de 2019, indicado pelo então presidente Jair Bolsonaro (PL).
As primeiras reações do mercado financeiro ao anúncio foram positivas.
O Ibovespa, principal índice da bolsa brasileira, fechou em alta nesta quarta-feira e bateu recorde histórico, com 137.344 pontos. Embora a nomeação de Galípolo não seja o único fator a ser considerado, é um sinal de que os investidores receberam bem a notícia.
O presidente da Febraban, Isaac Sidney, disse ver a indicação “com muita calma e otimismo”.
Quem é Gabriel Galípolo
Gabriel Galípolo, de 42 anos, fez parte do governo de transição, no Grupo de Trabalho de Infraestruturas, e assumiu o cargo de secretário executivo do Ministério das Finanças no início de 2023.
Formado em Ciências Econômicas e mestre em Economia Política pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, foi pesquisador sênior do Centro Brasileiro de Relações Internacionais e presidente do Banco Fator de 2017 a 2021.
Em seu currículo também ocupa o cargo de chefe do Departamento de Assessoria Econômica da Secretaria de Transportes Metropolitanos do estado de São Paulo, em 2007, e diretor da Unidade de Estruturação de Projetos da Secretaria de Economia e Planejamento de São Paulo, a seguinte ano.
Ao longo da campanha eleitoral de 2022, Galípolo foi peça fundamental na estratégia do PT para reduzir a resistência a Lula no mercado financeiro. Em alguns acontecimentos do período, foi visto como uma espécie de porta-voz da candidatura lulista.
Anteriormente, foi sócio do economista e consultor editorial da CartaCapital Luiz Gonzaga Beluzzo, com quem escreveu três livros: Mande quem pode, obedeça quem tem perdas2017; Escassez na abundância capitalista”, de 2019; e Dinheiro: o poder da abstração real2021.
A história do Galípolo no BC
Na reunião do Comitê de Política Monetária de maio, Galípolo e outros três diretores indicados por Lula para o BC votaram pela redução de 0,50 ponto percentual na taxa básica de juros. Porém, prevaleceu um grupo formado por quatro dirigentes e chefiado por Campos Neto.em defesa de uma redução mais conservadora de 0,25 ponto. Com isso, a Selic passou de 10,75% para 10,5% ao ano.
Nas reuniões seguintes, em junho e julho, a dinâmica mudou: houve decisão unânime de manter a taxa em 10,5%. O alinhamento do Galípolo “acalmou” parte do mercado que temia o aprofundamento de uma cisão no Copom em torno da Selic.
Críticas ao PT
Por outro lado, no dia 14 de agosto, o PT criticou em seu site uma declaração de Galípolo sobre um novo aumento da Selic “estar em cima da mesa”. Para o partido, o aumento da taxa poderá “piorar a situação fiscal do país, uma vez que as taxas de juro aumentam significativamente o custo da dívida pública”.
Na semana passada, o economista também teve que se explicar por ter dito que “aumentar os juros é uma situação cotidiana de quem está no BC”.
“Venho agora de um discurso em que me expressei mal e tive uma interpretação inadequada, mesmo tendo repetido diversas vezes: estou reafirmando meu discurso anterior”, afirmou. Ele disse considerar “completamente saudável” receber críticas sobre a política monetária e negou constrangimento ou pressão sobre diretores do Banco Central.
Desde o início do terceiro mandato, Lula faz críticas contundentes a Campos Neto e à atual condução da política monetária. Há dúvidas sobre qual será a postura do presidente após a posse de Galípolo, já que ele é indicado pelo seu governo. Este é um dos principais pontos de interrogação sobre a gestão futura.