Três dias antes da proibição apostas que não solicitou autorização para operar no Brasil, o governo ainda não sabe a extensão da medida. A existência de sites fraudulentos que mudam constantemente de endereço e a utilização de marcas diferentes pela mesma empresa dificultam a contagem de quantas empresas de apostas eletrônicas operam no Brasil.
A constatação é da Secretaria de Prêmios e Apostas do Ministério da Fazenda, Régis Dudena. Segundo ele, o governo só saberá com clareza o número de empresas de apostas on-line seguindo o regulamento, que entrará em vigor em janeiro. Isto porque, após esta data, apenas poderão operar no país empresas homologadas pelo Ministério das Finanças, podendo cada uma operar até três marcas.
“Há várias dificuldades em fazer a contagem. Uma delas é a diferença entre empresas e marcas, pois uma empresa pode operar mais de uma marca. Há uma segunda coisa, que é uma empresa que usa apostas para fraudes. Ela abre um domínio, passa a prestar aquele serviço fraudulento e migra. Então, eventualmente, o mesmo grupo deixa rastros de dezenas, centenas de sites utilizados para mera fraude ou atividades criminosas”, explica o Secretário de Prêmios e Apostas.
Segundo Dudena, é difícil para o governo, neste momento, ter clareza sobre o que são empresas e estelionatários que se aproveitam das apostas para cometer fraudes. “Em nosso banco de dados aqui, temos algumas centenas de sites que localizamos. Agora, certifique-se se estes são alguns grupos que operam muitos [sites]não estamos 100% claros sobre isso. O que depende de nós? Tirar do ar esses sites se eles não forem legais, sejam do mesmo grupo ou não”, explica.
Contando o número de empresas de apostas on-line que atuam no Brasil também se reflete no setor privado. Em abril deste ano, a plataforma de análise de dados Datahub estimou que 217 apostas operavam no país, um aumento de 735% em relação às 26 empresas existentes em 2021. Em junho, a organização não governamental Instituto Jogo Legal estimou em 2.000 o número total de sites de apostas esportivas e cassinos virtuais no mercado brasileiro.
Expectativas
Com a dificuldade de contabilizar as empresas que atuam no país, o governo só consegue fazer estimativas com base no processo regulatório. De acordo com as estatísticas mais recentes da Secretaria de Prémios e Apostas, 118 empresas fizeram 123 pedidos até esta semana. Só no último mês, informou a agência, várias empresas desistiram e outras refizeram os pedidos, voltando ao fim da fila de análise, mas a secretaria não informou as quantidades.
Regis Dudena prevê que nem todos os pedidos serão aprovados, mas estima que cerca de 100 empresas operem legalmente no Brasil a partir de janeirocom base na comparação com outros países. “Nos mercados de apostas consolidados, é muito raro encontrar um mercado com mais de 100 empresas autorizadas. Temos um número muito significativo de empresas que vieram perguntar. Já temos certeza de que muitos ou alguns deles não passarão em todas as triagens. Estamos avaliando, estamos realizando reuniões de controle e conseguimos identificar algumas empresas que não atendem aos requisitos”, declara.
Segundo Dudena, o governo está sendo muito rigoroso na análise dos processos. “Elevamos muito a fasquia para regular. Esse número mostra que há muitas empresas que decidiram cumprir a lei. Considerando que cada uma dessas autorizações pode gerar até três marcas, temos um número bastante significativo para o mercado de sites em operação [a partir de janeiro]”, diz.
Articulação
Além da Secretaria de Prêmios e Apostas da Fazenda, que editou dez portarias regulamentadoras e analisa solicitações de empresas, o Lei 14.790/2023que legalizou as apostas eletrônicas, prevê que o Ministério dos Esportes também regulará as apostas, por meio da Secretaria Nacional de Apostas Esportivas. Dudena afirma que os dois órgãos atuarão de forma coordenada e negou ações sobrepostas.
“O que a lei prevê é que o processo de regulação e autorização das apostas seja da responsabilidade do Ministério das Finanças. O Ministério do Esporte é responsável pela dimensão esportiva da atividade, principalmente para indicar os esportes em que se pode apostar e evitar a manipulação de resultados”, explica.
Dudena destaca que o Ministério da Fazenda atua em diversas frentes e atua em conjunto com o Ministério da Justiça para combater a criminalidade no setor de apostas por meio da Polícia Federal e preservar os direitos do consumidor por meio da Secretaria Nacional do Consumidor. A Secretaria de Prêmios e Apostas, informa o secretário, também atua em conjunto com a Agência Nacional de Telecomunicações para acionar provedores de internet para derrubar sites fraudulentos.
Por fim, a Fazenda trabalha em conjunto com o Ministério da Saúde para coletar informações que aprimorem a regulamentação a fim de preservar a saúde mental do apostador. Segundo Dudena, a Secretaria de Prêmios e Apostas fornece ao Ministério da Saúde e ao Sistema Único de Saúde informações relevantes para a política de saúde mental. Na próxima semana, as duas secretarias deverão criar um grupo interministerial sobre o tema.